sábado, 20 de março de 2010

Mais policiais, por favor...




















Andava com saudades de voltar aos “meus” posts policiais e ontem o pedido de uma amiga-leitora empurrou-me:

“(...) por favor, volte aos nossos policiais! Maria J., continue com os policiais, please. E música… como aquela. ('Summertime') Always! "

Senti-me aliviada. Estava num “bivio” palavra italiana que acho muito forte e cheia de sentidos (fortemente polissémica, diriam os sábios): é dilema, é cruzamento, encruzilhadas, é muita coisa, enfim.
Pois, ao fim e ao cabo, decidi e a
qui venho falar de um dos grandes escritores policiais, de que muito falei, agora pouco falo mas que nunca esqueço!

No próximo "post" irei falar de Dashiell Hammett.

Antes, queria fazer um pequeno aparte sobre o que li entretanto: Acabei de ler um livro da Mary Higgins Clark, "The Craddle will Fall", escritora policial americana (1). É considerada a Rainha do Suspense da América e por vezes escreve também, em duo, com a filha Carol, como por exemplo o livro intitulado: "Dashing through the snow".


Bem escrito, bem estruturado, prende o leitor -muito “suspense”. Li-o em poucas semanas porque leio sempre vários livros dos mais diversos género, contemporaneamente. O que querem? Ler é o meu vício!



De facto, neste romance (The craddle will fall), apesar de, quase desde o princípio, saber quem é o assasssino da história o interesse mantém-se até ao fim.

Nos últimos anos comecei a ler outro tipo de leituras policiais. Outro tipo diferente dos chamados "clássicos" policiais (o que é clássico?), com o seu crime, a investigação minuciosa (tipo Sherlock Holmes e o método de observação) por parte de um detective. Ou à maneira do comissário (Maigret e a "aproximação pela compreensão" dos motivos do assassino, Miss Marple, Poirot - e as suas "célulazinhas cinzentas" infalíveis, ou mesmo o Wexford, o Chief-Inspector de Ruth Rendell) e a resolução de um mistério que parece insolúvel.

Ou, então, a análise do crime e do criminoso, a nível "físico-psicológico" da doença do espírito e do corpo, ou psicanalítico, ou "científico", como hoje se usa: os psicopatas aparecem, os assassinos em série, etc. e todo o aparato da Medicina Legal, autópsias, identificações minuciosas de tecidos, analisados, escalpelizados, numa especialização só possível nestes finais do século XX e princípios de XXI.





Já falei da Ruth Rendell e da israelita Batya Gur, que alia a história detectivesca a uma análise psicológica.
Também li muito ( e gosto) Patricia Cornwell -ela própria especialista de análise em computadores trabalhando num Gabinete de Medical Examination, da Virginia, durante 6 anos e a sua heroína fantástica Dr. Kay Scarpetta, no seu cientifismo policial (1): análises de tecidos, DNA, genes, tudo é dissecado (aliás a dissecação é pormenorizada nos seus livros e o médico legista fundamental).




Rosamond Smith (3), pseudónimo, aliás, da escritora americana bem conhecida, Joyce Carol Oates) é a autora de romances de perseguições horrendas por parte de assssinos psicopatas ("Soul/Mate", terrível exemplo de uma mente doente à procura da sua "mente/metade");
Ou Barbara Vine (4), aliás, Ruth Rendell, ou a inglesa Martina Cole ("Por Perto", editora Civilização).


O romance policial torna-se um thriller em que o assassinop é um psicopata, serial killer, psicótico, que persegue cruelmente as vítimas.

Frequentemente surge a evocação dos corpos torturados, martirizados, mãos decepadas, rostos desfigurados num manancial de sangue e sadismo.

Procura sádica essa leitura, por vezes masoquista, numa certa forma, diria, de "auto-vampirização" das massas que vão atrás dessas imagens brutais quase insensivelmente, procurando "auto-lesionar-se", magoar-se?
Confesso que também eu fico presa do suspense, da perseguição infernal, maléfica daquele psicopata, aparentemente normal, daquela vítima inocente que o provoca sem saber.

Curiosidade mórbida de uma certa forma de "desconhecido" que gostaríamos de desvendar.?


A querer saber como é , afinal?

Quem é o assassino? Por que o fez? Como o fez?

E o detective/comissário/promotor de justiça/psiquiatra -poderá descobrir as razões?
E evitar que volte a acontecer?

Como se pode "explicar" este ou aquele comportamento?

Seremos todos vítimas de um modo ou de outro?
Todos estes romances não teriam sido possíveis antes -ou apenas como ficção cinetífica, de tal modo moderna e ultra-sofisticada é a "aparelhagem" policial e científica em laboratórios que está por detrás do investigador.
Também li P.D. James ("A Certain Justice", p.ex.) –inglesa que escreve há muitos anos bons livros policiais, numa mistura de "clássico" e "moderno", chamemos-lhe assim.

Mas confesso que sinto às vezes a falta de uma certa preocupação ética: sim, ética!
Quando leio Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Hartley Howard etc, sinto (não falo já dos outros clássicos: Simenon, Dorothy Sayers, Rex Stout, Agatha Christie) -é mesmo um sentir cá de dentro- que, para lá de todas as cenas de violência, sentimentos brutais, paranóias, corrupções, há uma preocupação moral.

Moral no sentido de distinguir o bem do mal, moral no sentido de se ser exigente no que se escolhe: isto não se faz porque sim, isto justifica-se mesmo que aparentemente errado a certos olhares porque sim...
Sam Spade, Marlowe são capazes de violências enormes, de baterem, de matarem, mas só se for necessário: para se defender, defender alguém.

Matar tem então um sentido –uma justificação?
Bowman, herói de Howard também se preocupa com “essas coisas”: o dinheiro sim, os dólares antecipados para cumprir uma missão, sim, MAS não qualquer tipo de “missão”.
Ao ler estas histórias sangrentas, doentias, cheias de sangue e de horror penso como eram ingénuos estes duros de Chandler e de Hammett!
Que boa era a "ingenuidade" deles!
Há uma exigência moral. E põem logo os pontos nos “iis”.

Nestes outros romances mais recentes -os tais científicos- há sem dúvida o bem e o mal bem distintos (a Dra. Kay Scarpetta, de Patricia Cornwell, ou a Promotora Katie DiMaio, de Mary Higgins Clarck) estão do lado da justiça.
Ao ler estas histórias de crimes sangrentos, doentias, que nos deixam cheios de susto e de "medos" penso como eram ingénuos os duros de Chandler e de Hammett!

Que boa era a ingenuidade deles.
Como o era Maigret, com todas as suas branduras ou formas de ternura quando deixa “escapar” certos culpados (que foram “empurrados” para um crime que a sua natureza logo condenou)...
Mas a apresentação de um mal "quase inelutável", dos assassinos "psicopatas" incontroláveis, apesar da atracção, deixam-nos uma forma de susto, de inquietação: será bom falar tanto deste "evil" -mal, seres diabólicos- que nos rodeia? Não será "banalizá-lo"? Trazê-lo só à superfície -sem qualquer preocupação de o explicar/reprimir/ ajudar?

Pergunto eu...
E penso: como eram reconfortantes os "duros" à Humphrey Bogart, ou falsos-duros, de Chandler e de Hammett!
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(1) outros livros de MHC: "I'll be seeing You"; "All Around the Town"

(2) outros livros de Patricia C: o seu primeiro romance, (recebido com grande sucesso) é "Post Mortem", depois vem "The Body Farm", "The Body of Evidence"

3)outros livros de R.S: "Double Delight"

(4) outros livros de B.V: "A Fatal Inversion"

2 comentários:

  1. Nâo costumo ler livros policiais,mas interessa-me muito,como a você,a razâo de ser dos comportamentos humanos,o mundo dos outros,o claro-escuro do que mostramos e escondemos,às vezes,de nós próprios.O que nos leva a ter ou nâo ter esse tâo anelado equilíbrio emocional.M.

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  2. É isso mesmo que no fim e ao cabo procuramos: perceber os outros, muitas vezes -sempre- através de nós próprios, mas também "abrindo" o espírito a outros comportamentos, seja em que campo for...
    Abraço e obrigada por vir visitar o blog...

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