quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Utopia... O que é a Utopia?

O que é a Utopia?
Nestes mares, em que ilha perdida estará "escondida" a Utopia?


O que é a Utopia?
Procurei a definição no velho dicionário de Cândido de Figueiredo (última edição).


Cito:
País imaginário em que tudo está organizado da melhor forma; plano de governo de que resultaria a felicidade pública, se ela fosse exequível; sistema ou ideia irrealizável.”
No Larousse de Poche dizem apenas: “ projecto quimérico”.

Fui procurar no completíssimo “Aurélio” -e lá vem explicada a tal Utopia:

UTOPIA: "País imaginário, criação (1) de Thomas More (ou Morus 1480-1535) Chanceler de Inglaterra, escritor e filósofo. País esse onde um governo organizado da melhor maneira proporcionava óptimas condições de vida, e um povo equilibrado e feliz.”

Palavra que vem do latim moderno “utopia”, por sua vez originado do grego: ou”(não)+ “topos”(lugar) : o que seria então equivalente a um “não-lugar”, um lugar inexistente, lugar ideal?
Espécie de Paradise Lost (2), de John Milton? Inatingível?


Pergunto eu:
Mas por que não há-de existir esse lugar? (pergunta ingénua, dirão...)
Claro, porque é difícil encontrar um país em que tudo funcione perfeitamente e cujo plano de governo levaria à “felicidade pública”?
Difícil, claro. Inexequível, diz o dicionário...
Para começar: o que é a felicidade pública?
O que faz feliz um, fará feliz o outro?..

E... O que é a felicidade?

A felicidade deve ser só para alguns?
Claro que todos dirão, em coro: "Não! é para todos!"

Será para todos, mesmo? E onde está?

Camilo bem perguntou: "Onde está a felicidade?" , título dum seu romance em que a felicidade "non c'è..."

Onde procurá-la?, insisto.

Na natureza? Mas que natureza?

O país da Utopia está onde?

Numa Ilha? Longe? Perto de outras ilhas?

Será um país com neve? Como no livro de Kawabata?

No deserto das Arábias, num camelo solitário? Encontramo-lo sozinhos?

















Ou acompanhados, no meio dos outros povos, dos outros mundos, diferentes de nós? Estará nas florestas vermelhas de aceres do Japão e da floresta do Gerês? Com animais coloridos, como a raposa de Franz Marc?

Com grades, para alguns?






Com lobos?






Com gentes e com casas?

Terá pombas? Andorinhas? Será um mundo poético?







Outras perguntas possíveis:



Haverá pintura? Que tipo de pintura?
Com dança? Ou música?

Qual música?
A de Miles Davis? Ou a de Schumann? A beleza nua?







Vestida?

Mas o que é a Beleza? A da Vénus de Boticelli servirá para todos no país da Utopia?

E o Paraíso Perdido onde está? É lá também?


capa da 1ª edição do Paradise Lost, de John Milton

Pois é, o homem tem dificuldade em estar de acordo com os outros homens, nestas coisas todas...

E às vezes mesmo consigo próprio, não é?

Como entender-se então nesse país da Utopia?

Mas tentemos!
Sim... por que não tentarmos “aproximar-nos” o mais possível desse país/mundo perdido ou inexequível?

Perdido por quê? Por quem? E, se perdido, por que não recuperável...?

Inexequível?! Quem diz o que é inexequível para o homem que, nestes milhões de anos, lá foi evoluindo, coitado, conquistando coisas, civilizando-se como pôde, sabe-se lá com que dificuldades!

O despotismo de uns, a supremacia de outros, a conquista da liberdade, e logo de outras liberdades umas atrás das outras, a insegurança de si próprio...

Não foi simples.

E continuou lutando! Para acreditar na utopia, naquilo que era o bem para si e para os outros.

Somos injustos para este homem!
Vamos tentar, outra e outra vez?

Devagarinho, um passo aqui, outro ali...
Em pequenas coisas, mudanças aparentemente mínimas.

Um novo tipo de relacionamento humano. Por que não? Este já vimos que não dá...

Solidariedade. Comunicação. Tolerância. Decência.

Deitar abaixo o “espírito competitivo” que leva à “concorrência selvagem “ em tudo; ao “salve-se quem puder”, ou ao “mordo-te antes que tu me mordas...!”, etc.

É preciso um pouco de ética a mais, como diria o bom Tchekhov que acreditava na Utopia de certeza, senão não agiria como agiu, com os seus pacientes, com os amigos, com os actores com quem trabalhou...

Sejam decentes”!

Gorki dizia que esta era a frase que lhe vinha ao pensamento quando se lembrava de Tchekhov. A sua existência era um pedido mudo para se viver de outro modo: de maneira decente!

“Tenham vergonha! Portem-se como gente!”

Acrescento: sejam humanos!

No sentido positivo, é evidente. Nada daquele das "fraquezas humanas"!

De homens, seres civilizados, solidários dos outros seres humanos...

Em companhia. Esquecendo o ódio que nos mata por dentro, e não atinge o inimigo.

Amando.

Resumindo: é isto que nos resta, é isto que “ainda” nos é possível fazer...
Pequenas-grandes coisas, pequenos-grandes gestos...

E é aqui que entra Barack Obama!

A "pomba negra" da Paz, Barack Obama, conseguiu uma pequena vitória. Reuniu os senhores da guerra, donos do urânio mal guardado, ou mal-parado, e pediu-lhes para reflectirem se não era melhor "arrumar" as armas nucleares.
Pelo menos uma parte...


Pouco? Melhor isso do que não fazer nada.

Nada fazer é que prejudica sempre!

Semanas atrás, conseguira outra pequena-grande vitória, pois, pela primeira vez, o sistema de saúde americano –um dos piores do mundo- passou a ser uma "hipótese viável" para todos, não perfeita, claro, mas melhor...

Apoio Obama!

Importa é tentar fazer melhor. Sobre nós próprios e sobre aquilo que depende de nós. Passo a passo... Devagar. Não desistir da esperança.

Acreditar na “Utopia”.

Pensar que a Pomba da Paz viesse a ser "negra", alguma vez, não era considerado uma Utopia ainda há poucos anos?
Que fosse simultaneamente Presidente da América não era outra Utopia? Então... afinal as utopias podem ser possíveis?
Termino com esta nota positiva...
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Utopia:

"To affect the quality of the day that is the highest of arts."
We must learn to reawaken and keep ourselves awake, not by mechanical aids, but by an infinite expectation of the dawn, which does not forsake us in our soundest sleep"
Henry Thoreau
escritor americano (1817-1862)

frase citada In blog “bicho carpinteiro”, de 22 Fevereiro 2010

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(1) o livro de Thomas More (1480-1535) intitula-se Sobre o melhor estado de uma república e sobre a nova ilha Utopia- ou simplesmente Utopia. É um livro de 1516 escrito em latim. Foi sua principal obra literária e tornou-se sinónimo de projectto irrealizável. Sinónimo de fantasia; delírio; quimera; lugar que não existe, dando uso mais amplo do então neologismo "utopia".
O livro parafraseia S. Mateus: “O que vos digo em voz baixa e ao ouvido pregai-o em voz alta e abertamente”.

(2) "Paradise Lost" é uma obra poética do século XVII, escrita por John Milton, originalmente publicada em 1667, em dez cantos.

(3) Há ainda uma outra "Utopia", livro de Isaac Asimov, grande autor de ficção científica, autor da célebre Trilogia da Fundação ("Foundation").

Isaac Asimov, judeu russo, nacionalizado americano, nasceu no shtetl de Petrovichi, em 1920 e morreu em Nova Iorque em 1992). Foi um escritor e bioquímico autor de obras de ficção científica e de divulgação científica. Asimov foi autor também de obras de mistério e fantasia, assim como uma grande quantidade de não-ficção.

7 comentários:

  1. Eu acho que a Utopia é, apenas..., o que nos permite sonhar.Logo, o que nos permite viver. Acho eu...

    Beijinhos de Cambridge

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  2. Utopia? Claro que tem de existir. Não sei aonde nem quando. Mas…

    Terá de ser necessariamente o lado oposto do meu País - esse onde o governo está desorganizado da pior maneira proporcionado péssimas condições de vida, e um povo desequilibradíssimo e infeliz.

    Ora se não existe o preto sem o branco nem o quente sem o frio e se de facto existe um país (o nosso!) mergulhado numa infinita entropia, algures tem que existir infalivelmente uma Utopia.

    MFonseca

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  3. Minha cara amiga.

    Mas que belo texto.
    A utopia trago-a guardada dentro de mim.Às vezes sossegada,Às vezes aos saltos e pinotes.Querendo sempre libertar-se.
    É ela que me guia a vida.
    É sempre um enorme prazer ler este blogue.
    Saudações cordiais,
    mário

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  4. Em quase todos os países do mundo há e sempre houve,grandes injustiças.Menos mal que,graças a alguma gente, a humanidade avança de vez em quando (só com boas intençôes, nâo se chega longe).
    No entanto quero pensar que nas favelas do mundo inteiro há gente que ri,e ama,e sonha,porque dizem os entendidos que,se nâo encontramos a Felicidade no nosso interior,nâo a vamos encontrar em nenhum sítio.Beijinhos

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  5. Fico contente: os meus amigos também acham que existe para aí a Utopia!
    Dentro de nós? Algures por esse mundo? Perto ou longe?
    Só depende de nós encontrá-la...Mas antes disso: procurá-la, começando de dentro para fora, como tudo.
    Abraço

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  6. Luisinha? E as cinzas de lava que voam pelo norte da Europa? Ficas por lá, não???
    Hahaha!
    bjs

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  7. O que me faz viver é acreditar a sério na Utopia...
    se assim não fosse nada valia a pena, não é?
    Um belo texto, Parabéns!!

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