terça-feira, 11 de maio de 2010

Efeito Borboleta: Experiências de vida...

Martin Johnson Heade, Blue Morpho Butterfly
Uma amiga - a Helena A.- falou-me há tempos de um blog especial:

-Tens que ir ver! Não te lembras dela? Foi também professora no nosso Liceu...
Por isto e por aquilo fui adiando procurar. Hoje decidi-me e fiquei mais rica.
A experiência, dizem, não é o que se vive mas o "que se faz" com o que se viveu...
O que quer dizer, como todos percebemos, que várias pessoas podem viver as mesmas experiências, estar nos mesmos sítios, conhecer ou não conhecer mundos...Ver o que é, ou não é, exótico, diferente, chocante ou atraente... de modo muito diverso.
Nem todos olham da mesma maneira, nem todos se deixam "impressionar" -película que todos somos "impressionável!- de modo idêntico.
Todos olhamos... Mas deve-se "olhar" de olhos abertos.
Olhar, ou não olhar, para o alto de uma montanha, da montanha para o rio lá em baixo, para uma pessoa que nos olha curiosa, para um pássaro, uma borboleta, um bicho da terra qualquer...
Olhar, abrir-se, entender.

Há quem saiba apenas "visitar" sítios. Juntar apenas nomes de terras, de metrópoles, e mostrar fotos no regresso a casa, ou um video onde está tudo o que se deveria viver mas apenas se olhou...

Sem deixar nada de nós, sem pôr um pouco das nossas raízes e do nosso coração, da alma -seja lá isso o que for, como diz a minha a amiga Luísa.



A simplicidade de uma planta, um pôr do sol, um gesto, um sorriso.

Importa é o que "disso" soubermos tirar... Não é?

Representação da "Tragédia Floripes", em S. Tomé.

Fui ver o blog... Gostei logo do nome: "Efeito Borboleta"

E, à medida que lia, ia pensando que cada um de nós pode provocar um "efeito borboleta" à sua volta, maior ou menor.
Não somos perfeitos, não somos deuses, nem mulheres (ou homens) biónicos como a Wonderwoman dos anos 80... Mas todos podemos tentar fazer qualquer coisa e talvez as nossos pequenos bater de asas agitem um pouco o mundo...


Tentare non nuoce, dizem os italianos sabiamente. Não faz mal tentar...

Mas o que é afinal o "efeito borboleta"?

Diz a wikipédia:
"Efeito borboleta é um termo que se refere às condições iniciais dentro da teoria do caos.
"Fractais"- Teoria do Caos, Mandelbrot 1-lambda
Este efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward Lorenz. Segundo a cultura popular, a teoria apresentada, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.
Porém, isso mostra-se apenas como uma interpretação alegórica do facto. O que acontece é que, quando movimentos caóticos são analisados através de gráficos, a sua representação passa de aleatória para padronizada -depois de uma série de marcações onde o gráfico -depois de analisado- passa a ter o formato de borboleta."

Trajectória do sistema de Lorenz (aparentando as asas de uma borboleta)


Cito ao acaso algumas passagens do blog "Efeito Borboleta":

"Peguei nas minhas peças soltas, aquelas que fazem parte da imaginação e que nos habitam sem explicação e tornei-as físicas.
Peça um: vou como voluntária para Moçambique em Janeiro. Três meses.
Depois de uma "Volta ao Mundo" sinto que só assim conseguirei tornar-me maior. Junto a segunda: um simples acto pode influenciar de forma positiva uma vida. Peça três: escrever. E outra: histórias de vida.
A última: Quero agir e sei que consigo. Junto-as com descuido, dedicação e com uma dose de impulso parto para a acção.
Neste espaço vou escrever histórias de vida que passarão pela minha enquanto estiver em Moçambique. ""A diferença é que quem as ler poderá agir. Cada vez mais sinto que as pessoas querem fazer algo para mudar o mundo mas que se sentem “perdidas” por não saberem como ajudar. Facultarei os dados necessários para que tenham influência nessa vida (suponhamos que é um professor e do que precisa são canetas e lápis ou livros. Proporcionarei a hipótese de quem lê lhes possa fazer chegar esse material). Um acto individual pode fazer a diferença! Pode ser uma ajuda material ou uma simples troca de correspondência. No final poderão ver os resultados da ajuda que foi dada. Publicarei textos ou fotografias que o mostrem.

Gauguin

1 de Abril de 2010

"Não me agrada… fico, até, à beira da irritação, um pequeno desequilíbrio e já está: não há palavras, nem texto, nem uma letra sequer, nada. Mostro umas fotos e pronto. A sensação é conhecida. Quando vivi na praia do Baleal, quando andei pelos Açores, quando passei pela Polinésia. Tão bonito, tão cheio, tão transcendente que temia mergulhar na escrita demasiado colorida, no piroso… Agora. Aqui. Nas vidas da Reencontro. Escrevo a tristeza. E temo a lamechice desenquadrada, o cair na pena fácil, na lágrima que se esquece. Não é justo, nem digno."

Capa de Beleza e Tristeza do japonês Kawabata

A certo ponto leio :

"Talvez tenha descoberto uma forma. Para variar preciso da vossa ajuda. Neste caso é na postura que assumem ao ler. Dispam os casacos de sentir pena e da palavra “coitadinhos" entranhem aquela força de querer, a de luta pela mudança. Posso confiar? Então…
Sentei-me com a Rute no alpendre cá de casa. Duas cadeiras no chão vazio. Sei que sou pessoa mas depois do que vi nalgumas casas, naquelas famílias, diminui-me o género humano. Transformo-me quase em coisa. Estamos sentadas mas não consigo falar. Só tenho que lhe dizer que conseguimos dinheiro para comprar duas máquinas, os rolos de tecido, tesouras, linhas, agulhas, o transporte de Maputo. Mas. Não consigo falar. Lembro-me dos três irmãos que vivem sozinhos numa palhota aqui tão perto. Não vão à Escola, não vão ao hospital buscar os medicamentos (são seropositivos), mal comem, mal se lavam, mal se mexem. Porque ninguém os orienta. E porque têm dois, quatro e sete anos.
- Rute. Conseguimos.
Recebo um abraço só de silêncio.
- Conseguimos.
A Reencontro tenta apoiar 608 crianças órfãs, como sabem. E as histórias são todas deste tamanho. Não consigo não estar envolvida de corpo e alma neste projecto. Toca-me e desarma-me. Tira-me o que sou e obriga-me a ser mais. Sei que estas histórias não têm geografias, que existem ao nosso lado ou no fim do mundo, nada as torna especiais por serem longe. O que as torna especiais é existirem. Quando nunca deviam sequer ser um sopro. Não tenho pretensões ou ilusões de que com este acto mudámos o mundo. Mas tenho a certeza que ajudámos a dar um passo para que estas pessoas possam trabalhar e lutar para mudar algumas vidas. Vão conseguir."

16 de Abril 2010

"Tropeço nos meus pensamentos. Nunca fui arrumada. Aquela cobra que surgiu debaixo do portão que em pânico escolheu o lado errado e chocou com uma parede enquanto eu voava para a caixa aberta de um carro está bem junto ao meu estômago. Nesse carro vai também um caixão, dezenas de pessoas a cantarem África e eu entre curvas de areia a conduzir sem saber como. Nem travões, nem destino. Só. E sem dúvidas. Acho que se alojou entre as minhas costelas porque o sinto quando respiro. Os “Bons Dias” do caminho andam pela minha garganta ainda com vida própria. Continuo a dizê-los por instinto. As minhas crianças do Centro estão-me debaixo da pele, no mesmo lugar onde o silêncio já me habita antes de cada refeição. Os Efeitos Borboleta encontram-se no meu pulsar, pressinto a sua continuação entre cada batimento. As pessoas que conheci transformam-se em cor de terra e entranham-se de forma clara, uma a uma, em cada vermelho de sangue. Já totalmente me são. E posso trocar de anatomia. No lugar do estômago posso passar a ter fígado ou apenas um breve som. São histórias que me preenchem. Pedaços vivos de gente e vísceras.Não fazia qualquer sentido não me partilhar. Agora… agora vou viajar. Viver a deslocação. Um lugar que sinto tão meu."

a trajectória tridimensional do atractor de Lorenz...

O tal "bater de asas"...
Deixo-vos a "pista". Vão dar uma olhadela ao blog, ler destas histórias que "não têm geografia", existem em toda a parte; da força de vontade dos que preferem um "toque de asa de borboleta" à comodidade de não fazerem nada, porque:

"Enfim, é a vida, sempre houve pobres..."

Ou: "Coitados, são uns primitivos, não aprendem a ler, não sabem nada..."

Ou ainda: "Todos sabemos que "eles" não gostam de trabalhar!"

Nunca ouviram estas frases?

Vamos todos "despir os casacos de sentir pena", e de "coitadinhos", como diz a Clara...

E se fizéssemos alguma coisa? Não é preciso ir tão longe, ir até África... Há muito a fazer aqui ao lado.

NOTA: as ilustrações são minhas. No blog têm fotografias "autênticas" de tudo o que esta jovem mulher "viu", fotografou, viveu e nos quis mostrar. Vejam. Vale a pena. Saímos mais responsabilizados e mais ricos...

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Curiosidades sobre "o efeito borboleta":

*Edward Norton Lorenz (West Haven, 23 de Maio de 1917 — Cambridge, 16 de Abril

*"Teoria do caos", para a física e a matemática, é a teoria que explica o funcionamento de sistemas complexos e dinâmicos.


*Os Fractais (ver imagens acima): o termo foi criado em 1975 por Benoît Mandelbrot, matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a geometria fractal na década de 1970 do século XX, a partir do adjetivo latino fractus, do verbo frangere, que significa "quebrar".

*"Efeito Borboleta" é também um filme:
The Butterfly Effect (Efeito Borboleta) é um filme norte-americano, lançado em 2004 de ficção científica/drama, com os actores Ashton Kutcher, Melora Walters, Amy Smart, Eric Stoltz e outros atores da New Line Cinema. O filme foi dirigido e escrito por Eric Bress e J. Mackye Gruber.
Este filme teve como inspiração a teoria do caos, onde está presente a teoria do "efeito borboleta".

2 comentários:

  1. Dar e Receber,a eterna dinâmica,tâo importante uma esmola como uma palavra.Os blogs culturais sâo adejos que transmitem ,àparte de conhecimentos,vibraçôes humanas,sempre humanas.Está de acôrdo comigo?Beijinhos

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  2. Claro que estou de acordo consigo! Dar e receber, dar sem pensar em receber (mais difícil...) é isso que conta na vida. E os blogs (ou outras formas de comunicação, qualquer palavra dita ou escrita) que não tenham isso em conta não podem ser "humanos"...
    Gostei de a ter de volta!
    bjssss

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