quinta-feira, 13 de maio de 2010

Uma atitude digna! Goodbye, Mr. Gordon Brown...

Uma vida digna, uma carreira digna, uma despedida digna...


Good bye, Mr. Gordon Brown!

Impressionou-me o discurso de despedida de Gordon Brown, em frente da residência de P.M. e, mais ainda, a dignidade que teve ao saber sair a tempo, deixar para trás o poder, o nº 10 Downing Street, tão ambicionado por todos...

E, logo, tão subita e ansiosamente ocupado...

Discurso comovido mas com a reserva de uma pessoa que se controla, tímida talvez, emotiva, que diz nunca lhe ter interessado o aspecto mediático do poder, os shows, as saídas, as festas e tudo o que a isso está ligado e faz as delícias de tantos.
E que pagou –obviamente pagou- esse seu “desinteresse” pelos “media”, que o trataram sempre mal.

Poucos tiveram uma imprensa tão dura, tão contra si, nos dois anos e 10 meses de premiership, como Brown, com a tão difícil e dura crise desde o início, logo à chegada, sem tempo para respirar...

Crise que consegue “equilibrar”, mas que, como um baralho de cartas, tudo à sua volta se vai desmoronando, crise após crise...

Gostei – e emocionei-me mesmo ao vê-lo em directo- do breve (essencial) discurso de adeus no Head Quarter do Labour.

As palavras aí saem mais presas, sentidas, os olhos estão cansados, tristes, e vê-se quanto é doloroso o que diz, a despedida aos amigos, os agradecimentos, a dedicação ao seu Labour onde sempre estará.

Refere The Guardian, no dia 12 de Maio de 2010, em artigo de Michael White:
Os que não votaram em Brown devem estar contentes com a saída do Primeiro Ministro, que foi sempre visto como um homem solitário à procura de conforto.
Nunca mais do que hoje.
Realizado o “deal” entre Cameron e Nick Clegg, Brown seguiu “imediatamente” para o Palácio de Buckingham, com os filhos e mulher entregar as chaves (the seals) –e a demissão de Chefe do Labour também –quase a correr.
Segue para o QG do Labour, faz as suas despedidas e sai.
Tudo demorou no máximo 20 minutos
.”

Solitário Brown.
Nada de manifestações para Brown... Vem-me à memória o título de um livro policial de James Hardley Chase "No Orchidees for Miss Blandish", história terrível...
"No Lap of honour for Brown- Just a qwick and dignified exit", era o título do artigo no "Guardian".
Nem espaço nem tempo para honrarias, nem carros da polícia à volta, nem barulho de Buck House para o Quartel General do Labour, perto de Victoria Street, para o breve discurso, os abraços, ver os olhos húmidos dos amigos, os sorrisos tristes, o "adeus amigos, eu vou..."

"A preocupação de Brown –homem contraditório, simultaneamente egocêntrico e altruísta e solidário (refere Michael White), terno e curiosamente masoquista- era que houvesse um governo. Não admitiu a ideia de que o Labour não conseguisse fazer um governo de coligação arco-íris até 5ª feira, dia 12.
Quando verificou que não o conseguia, demitiu-se logo."

Porque queria que houvesse um governo “forte, estável e com princípios estabelecidos que pudesse “durar”, coisa que ele não poderia assegurar...
"My constitutional duty is to ensure that a government can be formed after last week's general election…”
(“O meu dever constitucional é assegurar que possa ser formado um governo...” )

Não o podendo assegurar, não perde tempo em conversas e sai, dignamente demite-se.
"Only those who have held the office of prime minister can understand the full weight of its responsibilities and its great capacity for good.
"I have been privileged to learn much about the very best in human nature and a fair amount too about its frailties - including my own."
(Tive o privilégio de aprender bastante sobre o melhor da natureza humana e um bom bocado também sobre as suas fragilidades, incluindo a minha própria.
Acima de tudo tive o privilégio de servir. Amei este trabalho não pelo seu prestígio, títulos, e cerimónias –de que não gosto nada. Amei este trabalho pelo potencial que tinhe de fazer este país mais justo, mais tolerante, mais verde, mais democrático, mais próspero... Uma Inglaterra melhor."
Com a mulher ao lado, frente à entrada de Downing Street, continua:
"I wish the next prime minister well as he makes the important choices for the future".

A breve declaração termina com as palavras:
“E, ao deixar o segundo trabalho mais importante que alguma vez terei na vida, sigo o que amo ainda mais -o primeiro- ser marido e pai. Obrigado e adeus...”

Com a voz embargada, declara também que se demite de Presidente do Labour.
E deixa Downing Street em direcção a Buckingham Palace de mãos dadas com os filhos e a mulher.
Na última conversa telefónica com Nick Clegg (o momento decisivo foi ouvido pelo cameraman Martin Argles, convidado para fotografar as últimas horas da era Brown), poucos minutos antes da demissão, dissera:
Nick, I've got to go to the Palace. The country expects me to do that. The Queen expects me to go. I can't hold on any longer.”
("Tenho que ir ao Palácio. O país espera que eu faça isso. A Rainha espera que o faça...")
O dever.
A dignidade acima de tudo.
E a honra de uma atitude exemplar...
Admiro-o, Mr. Brown!

Hip hip hurrah para Gordon Brown! Boa sorte!

2 comentários:

  1. Mas não foi a este senhor que um microfone não desligado atempadamente «traiu» durante a última campanha eleitoral na UK?

    Estranho comportamento o do senhor Gordon...

    MFonseca

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  2. Sim, foi ele. Mas também foi ele que lhe foi pedir desculpa a casa... Nem todos somos perfeitos, nem o Mr. G.B., claro.
    Há sempre os "menos maus"...

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