sábado, 7 de maio de 2011

Oscar Wilde e o seu conto "O Rouxinol e a Rosa"









Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde nasceu na Irlanda, em Dublin, em 16 de Outubro de 1854 e morreu em Paris, em 30 de Novembro de 1900.

Criado numa família protestante, Wilde segue, na "Portora Royal School" de Enniskille e no "Trinity College", estudos de literatura latina e helenista.

Vai continuar a estudar para Oxford para o Magdalen College, com uma bolsa de estudo.

Acaba os estudos em 1878 e vai viver em Londres. Pouco tempo antes ganhara um prémio de Poesia, o “Newdigate”, com o seu poema Ravenna.


Em Londres tem uma vida social bastante agitada, sendo logo caracterizado pelas atitudes extravagantes.

Mais tarde, foi convidado para ir aos Estados Unidos fazer uma série de conferências sobre o movimento “ o esteticismo”, ou “dandismo”, por ele criado. Movimento estético que defendia, a partir de fundamentos históricos, o belo como antídoto para os horrores da sociedade industrial, sendo ele mesmo o que se chamava na altura um dandi.

Em 1883, vai para Paris onde vai ter papel importante no mundo literário local.


Volta para a Inglaterra e casa-se com a bela Constance Lloyd, filha de um rico advogado de Dublin. Vão morar para Chelsea, um bairro chic e de artistas londrinos. Têm dois filhos.



Para eles, escreve o poeta dois contos maravilhosos: "O Príncipe Feliz" e "O Rouxinol e a Rosa". É deste último que hoje vos deixo um bocadinho...

Além dos poemas e dos contos, escreve em 1895 a comédia “The Importance of being Earnest” que leva a traduções variadas por causa do inglês “earnest” : “A importância de ser Ernesto”, ou “A importância de ser Honesto” jogando com o nome Ernesto/Earnest (sério, intenso...).


Em 1952, Anthony Asquith realiza um filme tirado da peça, com Michael Redford (pai de Vanessa Redgrave).

A mais recente adaptação para o cinema é de 2002, um filme de Oliver Parker, com Rupert Everett, Colin Firth.


Em 1890 escreve o seu único romance "O Retrato de Dorian Gray"que sai na grande revista Lippincott.
A história "O Rouxinol e a Rosa" é uma das mais pungentes histórias de que me lembro!

Leio-a, mais o conto "O Príncipe Feliz", vezes sem conta. Eram as histórias que mais gostava de contar aos meus filhos... até que eles protestaram porque os fazia chorar!

Aqui deixo um pouco desse belo e triste conto.

“Ela disse que dançaria comigo se eu lhe levasse rosas vermelhas – exclamou o Estudante – mas estamos no inverno e não há uma única rosa no jardim... Por entre as folhas, do seu ninho, no carvalho, o Rouxinol o ouviu e, vendo-o ficou admirado...



- Não há nenhuma rosa vermelha no jardim! – disse o Estudante, com os olhos cheios de lágrimas.
(...)


Eis, afinal, um verdadeiro apaixonado! – disse o Rouxinol. Tenho cantado o Amor noite após noite, sem conhecê-lo no entanto; noite após noite falei dele às estrelas, e agora o vejo... O cabelo é negro como a flor do jacinto e os lábios vermelhos como a rosa que deseja; mas o amor pôs-lhe na face a palidez do marfim e o sofrimento marcou-lhe a fronte.


- Amanhã à noite o Príncipe dá um baile, murmurou o Estudante, e a minha amada vai estar entre os convidados. Se levar uma rosa vermelha, dançará comigo até de madrugada. Somente se lhe levar uma rosa vermelha... Ah! Como gostava de a ter nos meus braços, sentir-lhe a cabeça no meu ombro e a sua mão presa à minha...
(...)
- Eis um verdadeiro apaixonado... -pensou o Rouxinol. - Daquilo que eu canto, ele sofre...

- Os músicos da galeria – prosseguiu o Estudante – tocarão nos seus instrumentos de corda e, ao som de harpas e violinos, e a minha amada dançará. Dançará tão leve, tão ágil, que os seus pés mal tocarão no soalho e os cortesãos, com as roupas de cores vivas, reunir-se-ão em torno dela. Mas comigo não bailará, porque não tenho uma rosa vermelha para lhe dar...


E atirando-se à relva, ocultou nas mãos o rosto e chorou.


- Por que está a chorar? – perguntou um pequeno lagarto ao passar por ele, correndo, de rabinho levantado.
- Pois é! Por que será? – Indagou uma borboleta que perseguia um raio de sol.
- Por quê? – sussurrou uma linda margarida à sua vizinha.
- Chora por causa de uma rosa vermelha, - informou o Rouxinol.
- Por causa de uma rosa vermelha? – exclamaram – Que coisa ridícula!


E o lagarto, que era um tanto irónico, riu à vontade.

Mas o Rouxinol compreendeu a angústia do Estudante e, silencioso, no carvalho, pôs-se a meditar sobre o mistério do Amor.


Subitamente, abriu as asas pardas e voou.
Cortou, como uma sombra, a alameda, e como uma sombra, atravessou o jardim.
Ao centro do relvado, erguia-se uma roseira. Ele viu-a. Voou para ela e pousou num galho.
- Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu cantarei para ti a minha mais bela canção!
- As minhas rosas são brancas... tão brancas quanto a espuma do mar, mais brancas que a neve das montanhas. Procura a minha irmã, a que enlaça o velho relógio-de-sol. Talvez te ceda o que desejas.

Então o Rouxinol voou para a roseira, que enlaçava o velho relógio-de-sol.
- Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu te cantarei minha canção mais linda.

A roseira sacudiu-se levemente.
- As minhas rosas são amarelas como as cabelos dourados das donzelas...
O Rouxinol, então, dirigiu o voo para a roseira que crescia sob a janela do Estudante.


- Dá-me uma rosa vermelha – pediu - e eu te cantarei a mais linda de minhas canções.
A roseira sacudiu-se levemente.


- As minhas rosas são vermelhas, tão vermelhas quanto os pés das pombas, mais vermelhas que os grandes leques de coral que oscilam nos abismos profundos do oceano. Contudo, o Inverno regelou-me até as veias, a geada queimou-me os botões e a tempestade quebrou-me os galhos. Não darei rosas este ano.


- Eu só quero uma rosa vermelha, repetiu o Rouxinol, - uma só rosa vermelha. Não haverá meio de obtê-la?
- Há, respondeu a Roseira, mas é um meio tão terrível que não ouso revelar-to.
- Diz. Não tenho medo.
- Se queres uma rosa vermelha, explicou a roseira, hás-de fazê-la de música, ao luar, tingi-la com o sangue de teu coração. Tens de cantar para mim com o peito junto a um espinho. Cantarás toda a noite para mim e o espinho deve ferir-te o coração e o teu sangue de vida deve infiltrar-se nas minhas veias e tornar-se meu.

- A morte é um preço exagerado para uma rosa vermelha – exclamou o Rouxinol – e a Vida é preciosa... É tão bom voar, através da mata verde e contemplar o sol em seu esplendor dourado e a lua em seu carro de pérola...O aroma do espinheiro é suave, e suaves são as campânulas ocultas no vale, e as urzes trémulas na colina. Mas o Amor é melhor que a Vida. E que vale o coração de um pássaro comparado ao coração de um homem?

Abriu as asas pardas para o voo e ergueu-se no ar. Passou pelo jardim como uma sombra e, como uma sombra, atravessou a alameda.


Quando a lua refulgia no céu, o Rouxinol voou para a Roseira e apoiou o peito contra o espinho. Cantou a noite inteira e o espinho mais e mais foi se enterrando em seu peito, e o sangue de sua vida lentamente se escoou...”

E falta saber o resto...

Têm que ir ler. Só deixo a "pista"...


3 comentários:

  1. Vou ler sim.
    Tenho cá o livro com essa e outras histórias e já não o leio há anos.
    As fotos que acompanham o post são bonitas.
    Beijos
    Isabel

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  2. São lindíssimos os contos de Oscar Wilde. Aliás, gosto de tudo o que li escrito por ele. Os contos têm um sabor especial porque são simultaneamente belos e tristes. Tenho uma edição em casa com ilustrações muito bonitas, mas ainda não tive coragem de ler estas histórias aos meus filhos, precisamente por serem tristes. No meu blogue já coloquei a do gigante egoísta, que também é uma maravilha. Bj e bom Domingo!

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  3. Obrigada, obrigada por esta beleza. Também leio vezes sem conta as histórias que focou. Adoro Wilde. Do Retrato de Dorian Gray nem é preciso dizer nada.
    Há um conto que gosto muito: O Gigante Egoísta, é de uma beleza incomensurável e o jardim, sempre ele, aparece nas duas vertentes o bem e o mal.
    MJ Falcão um bom Domingo, pois, tornou o meu mais bonito!
    Bjs.

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