terça-feira, 6 de março de 2012

Dois sonetos de Bocage, escolhidos por José Régio

1.

Ó retrato da Morte!

Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor que a ti somente os diga
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel que a delirar me obriga.

E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar o meu coração de horrores. 




2. 


Nascemos para a amar...


Nascemos para amar: a humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços de ternura. 
Tu és doce atractivo, ó formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.


Enleia-se por gosto a liberdade;
E, depois que a paixão na alma se apura,
Alguns, então, lhe chama desventura,
Chamam-lhe alguns, então, felicidade.


Qual se abisma nas lôbregas tristezas;
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.


Amor ou desfalece, ou pára, ou corre;
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.


in "Os mais belos sonetos de Bocage", escolhidos por José Régio, Edições Artis, 1959

3 comentários:

  1. MJ,
    Ainda hoje estive a ler poemas escolhidos por Jose Régio para instrução e formação do povo (Estado Novo).
    Um belíssimo livro com ilustrações muito bonitas!
    Beijinhos. :))

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  2. Muito bonitos, e as pinturas escolhidas são lindas.
    Maria João já fui ver o Le Havre. Muito bonito.
    Gostei.Se puder vá ver, que acho que vai gostar.

    Um beijinho grande

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  3. Gostei, não conhecia.

    bjs grandes e saudades

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