domingo, 27 de maio de 2012

Edward Hopper - o pintor da melancolia e da solidão


"Blue night"

"Auto-retrato"

O pintor Edward Hopper  nasceu em Nyack (USA, estado de Nova  Iorque), em 22 de Julho de 1882 e morreu em 15 de Maio de 1967.

Leio na "wikipedia":Foi conhecido pelas suas misteriosas pinturas de representações realistas da solidão na contemporaneidade. Em cenários urbanos e rurais, as suas representações de reposição fielmente recriadas reflectem a sua visão pessoal da vida moderna americana.
"The City", 1927


Robert  Henri é a figura do meio

Estudou “arte comercial” e pintura. Um dos seus professores, Robert Henri (Escola de Ashcan), queria que os seus alunos se empenhassem a “ fazer mudanças no mundo”, usando o poder da arte.

Hopper olha em volta e faz descrições realistas da vida e da paisagem urbana de Nova Iorque. 
Desta escola - chamada Escola de Ashcan-  faziam parte outros pintores como John Sloan ou Smith ou e alguns deles foram nomes importantes da pintura norte-americana..
Hopper, acabado o curso de pintura, segue para a Europa. 
Queria estudar o que se passava na arte europeia nesses primeiros anos do século XX. 
Mas entre a arte abstracta, o cubismo e outras experiências que ali decorriam, o que Hopper prefere é a pintura realista: o idealismo dos pintores realistas.
Falo de Manet, Corot, Courbet.

"A casa ao lado da linha do comboio" (1925)

Em 1925, Hopper pintou um quadro que é famoso, um quadro "clássico”, “A casa ao lado da ferrovia” – um dos seus mais famosos trabalhos. 
Pintura já da sua  maturidade.
Com as linhas finas, a luz fora do comum, trate-se de paisagem do campo ou da cidade  - é no fundo a captura da solidão das pessoas que lhe interessa fixar.

"Vagão de mercadorias"

"Nighthawks", em Colónia

Fala dos ofícios mais duros ou solitários: em ferrovias, bombas de gasolina, ou nos drugstores sem gente.
"Drugstore"


Pinta o farol solitário, no alto da colina, onde se adivinha o bater das ondas do mar e o isolamento total.
"Lighthouse"

Pinta as ruas vazias, as fachadas das casas ao nascer do dia.

"Sunday Morning"


Ou os quartos de hotel e o desencanto.


Ou os cafés na noite, e as solidões que se acompanham com um cigarro, um olhar, um encolher de ombros.
As carruagens do metro onde todos se ignoram, ou nos comboios, como se tivessem medo de comunicar...
"Train"


Tanta vontade de sonhar no meio dessas vidas “arrumadas”, que se aceitaram como tal.
Expectativa, ainda, talvez? O pasmo, sobretudo. E a solidão sempre. Mesmo quando acompanhados.
"Sala em Nova Iorque"


Só o olhar para fora, o olhar para mais longe, os anima ainda. Mas muitas vezes estão virados para si, prisioneiros do vazio que trazem.

"Nighthawks"

Como “Os Falcões da Noite” (Nighthawks, 1942). Assim chamado porque é o nome dado aos noctívagos que, como essas aves, os falcões, que voam de noite e que apreciam a noite avançada e o silêncio.
"Citação" dos Falcões da Noite, por Robert Brown (portoriquenho)

Segundo o artigo da wikipédia, este café representaria o restaurante de Greenwich Village (Manhattan), onde Hopper se acolhia na noite - uma espécie de “lar” para ele.

O pintor Edward Hopper era grande espectador de cinema, daí que alguns críticos notaram semelhanças com filmes de gangsters (Scarface, 1932), ou Little Caesar (1931).


Não é por acaso que um dos seus quadros mais impressionantes de solidão é um cinema, em Nova Iorque, onde a tristeza da figura feminina, abstraída nos seus pensamentos, solitária, nos toca.

"Cinema em Nova Iorque"

Por que não pensar que o inverso também possa ter acontecido? Quantos filmes de série noir não terão “seguido” o pintor? 


fotografia no facebook: "Olive Street, dia 28 de Novembro de 1939, no meio do smog"


Ou, também, quantos romances não terão escolhido esta figura? E lembro os nomes de Hammett, Hartley Howard, Chandler e os detectives Sam Spade, Bowman ou Philip Marlow...
Quem não se lembra logo d' "O Falcão de Malta" e das figuras que Humphrey Bogart representou?

Humphrey Bogart "O falcão de Malta"

Como não pensar no homem do chapéu tombado para a frente que olha distraidamente para o casal sentado do lado de lá do balcão?
Parece-me muitas vezes “encontrar” traços dos quadros de Hopper no cinema americano dos anos 40 ou 50. 

"Casa na colina"

O próprio Hitchcock segue "de perto" alguns dos seus quadros. Como a casa da colina, que "aparece" no thriller "Psycho"?
Recentemente impressionou-me encontrá-lo no filme de Claude Miller, “Garde à vue”:  ver como todo o “décor”, os tons verde-folha, castanho avermelhado dos sofás  e a atmosfera da esquadra da polícia  são hopperianos!
A verdade é que muitos realizadores reconhecem nele a “fonte” de inspiração como Wim Wenders (The end of violence), ou  Ridley Scott (no Blade Runner), ou inclusivamente Dario Argento, num seu filme de terror...

Na música, descobri um CD de Tom Waits que homenageia esse quadro no álbum "Nighthawks at diner".


Capa do CD de Tom Waits

Dizia Hopper de "Nighthawks": "Inconscientemente, estava a pintar a solidão de uma grande cidade”. É o que nos deixa. E é maravilhoso!




http://youtu.be/D3-pTLDP0K4

3 comentários:

  1. Gostei muito do seu post.
    Comprei há poucos dias um livro de Hopper.
    Gosto da pintura dele.
    Um beijinho e boa semana

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  2. Gostei de conhecer.
    Como estás? Eu fui a Granada e vim bem, sinto-me em paz. Oxalá que dure...
    Beijinhos grandes

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  3. MJ,
    Gosto muito de Hopper. A melancolia e a solidão absorvem o olhar.
    beijinhos. :)

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