segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Paul Verlaine e a Chanson d'Automne


Quadro de Henri Fantin-Latour (Verlaine e Rimbaud os dois à esquerda)

Van Gogh, Les Alyscamps no Outono
O jovem Verlaine, por Courbet


PAUL VERLAINE E O OUTONO

Les sanglots longs
Des violons
De l’automne
Blessent mon coeur
D’une langueur
Monotone.
Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l’heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure
Et je m’en vais
Au vent mauvais
Qui m’emporte deçà, delà
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine (não consegui identificar o autor do quadro)

Paul  Verlaine e o absinto, "Café François I", foto de Paul Marsan Dornac (1892)

Como traduzir um poema intraduzível?

Oh! Como o Outono tem que ver com este soluçar dos violinos!
Oh! Como nos deixa melancólicos, parados, na contemplação do despir da natureza. Forma de monotonia sufocante, diz Verlaine. 
Saudades de um outro momento, outro Outono, outros dias passados. De um Outono antes de tudo se ter perdido.
Outro tempo, antes de lamentar o que passou.



E o poeta deixa-se ir, nesse som, abandonado ao vento mau que sopra, arrastado como uma folha morta...
Paul Verlaine, por Eugène Carrière



Houve um momento em que a canção de Verlaine teve uma outra segunda vida:durante a resistência francesa, os homens do "maquis" (resistência francesa) recebiam informações da BBC de Londres que costumava mandar muitas mensagens de carácter pessoal, anódinas. 


Só algumas delas eram “realmente” significativas, num código especial. Uma delas, transmitida poucos dias antes do "D- Day", dia do desembarque da Normandia, foi decisiva.
Era a primeira linha com os versos do poema de Verlaine, da sua "Chanson d’Automne".

os "maquisards"

Assim, “Les sanglots longs des violons de l’Automne” – anunciavam aos comandantes do Maquis que estava iminente o dia...

Quando a segunda linha apareceu: “blessent mon coeur d’une langueur monotone", souberam que a invasão seria dentro de 48 horas.

Lembrou-mo a Maria, comparando com o nosso “anunciar" do 25 de Abril de 1974.
“E agora adeus” e, poucas horas, depois “Grândola, Vila Morena.”

No fundo, a poesia, a Arte, os poetas estão sempre na raiz da Razão e da Justiça...

E da Utopia...



Breve notícia sobre Paul Verlaine. Nasce em 30 de Março de 1844, em Metz, e morre em 8 de Janeiro de 1896. Educado no liceu Bonaparte em Paris (hoje Liceu Condorcet), foi funcionário público uns anos. Escreve poesia muito cedo. 
O primeiro livro, influenciado pelo poeta parnasiano Leconte de Lisle, “Poèmes saturniens” (1866), tem algum sucesso - apesar da crítica negativa de Sainte-Beuve.
Casa com Mathilde Mauté, em 1870. Não os une muito tempo esse amor.

imagem da Comuna de Paris, Place de la Madeleine

Participa das lutas da Comuna de Paris, em 1871. Escapa à matança da “semana sangrenta”, refugiando-se em Calais.

É em 1871 que recebe a primeira carta do poeta Arthur Rimbaud (1854-1891). 
Arthur Rimbaud, Colagem


Rimbaud (pormenor do quadro acima representado, de Fantin-Latour)

Correspondem-se e liga-os de repente uma amizade amorosa violenta. Em 1872, vai viver com ele para Londres, em Bloomsbury.



Um dia, desesperado, Verlaine dispara sobre o amigo. É preso em Monz. Converte-se ao cristianismo nesses anos da prisão. 
Separam-se para sempre.

Quando sai, volta a Inglaterra, onde ensina. Regressa a Paris em 1877. Apaixona-se por um aluno que morre em 1883 deixando-lhe um enorme desgosto.

Jean Moréas (poeta grego de língua francesa)

Drogas, alcoolismo, pobreza e decadência é a vida do poeta nos últimos anos. Mas muitos o ajudam. 

Há páginas terríveis de André Gide, sobre ele, no seu Journal...

Depois do "Manifesto Simbolista", de Jean Moréas, a sua poesia é considerada como inovadora dentro desse movimento.

Em 1894 é aclamado “Príncipe dos poetas”.

Morre aos 52 anos, em 1896, completamente destruído, em Paris.

3 comentários:

  1. Interessante, como sempre.
    Gostei muito de ler.
    É lindo o poema.
    Um beijinho e boa semana

    (Vi o Resgate do Soldado Ryan.)

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  2. "Et je m´en vais
    Au vent mauvais"...

    Foi um poeta enorme que se resignou a dividir a sua vida entre aspirações místicas e uma sensualidade pervertida e pecaminosa para a época. Nota-se na sua poesia uma comovedora nostalgia da candura impossível.
    Foi ele quem revelou aos leitores franceses a importância literária dos tres grandes "poetas malditos".

    Parece que vai chover, oxalá!
    Baisers




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  3. Magnífico post, muito elucidativo sobre a vida
    de Paul Verlaine.
    E, muito bem ilustrado.
    Gostei muito.
    Beijinhos.

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