quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Ratinho Poeta e o Ouricinho em Roma!



Tal como prometi, levei-os no passeio a Roma...
O que terão pensado eles, realmente? Deixo o que fui vendo e ouvindo das conversas deles.
Só “acordaram” para a cidade na manhã seguinte. Dormiram profundamente no saco-cama improvisado e agora olhavam espantados em volta. Até ali havia um burrinho! E chocolate Toblerone!


Tudo era estranho: nova casa, nova luz, novos móveis... Estremunhados, curiosos perguntaram logo:
- Onde estamos? Era o Ratinho que falava.
- Em Roma! Em casa da Anna...
- Ah... Quem é a Anna?
- É verdade, vocês não a conhecem. É uma amiga da Gui que conheci há anos em Moscovo. Uma grande amiga.

Mais uma olhadela em redor. E outra pergunta que me pareceu insólita.
- Ela gosta de ratinhos?
- Que pergunta! Claro que gosta de ratinhos. Quem não gosta?
- Há pessoas que não gostam. Há quem tenha problemas com os ratos “normais”. Há ratinhos que não são boas pessoas...

Não  lhe quis dizer que, de facto, a Anna andava furiosa porque, na casa de praia, tinha entrado uma  família de ratinhos (os tais ratos normais?) que tinham roído tudo e mais alguma coisa: do sofá aos “maillots” de banho e  da comida aos tapetes. Estava desesperada. Isto não ia contar ao ratinho, claro. Mas como é  que ele tinha “adivinhado”?

Andaram a ver a casa e ficaram encantados com um candeeiro feito de velhas cassetes de música, que estava em cima da cómoda do nosso quarto. Bisbilhotaram tudo, até as gavetas da roupa.

- Não se mexe no que não é nosso..., fui eu dizendo.

Sem responder, o Poeta disse:
- Vais-nos mostrar Roma hoje?

E deu um  saltinho da cómoda para o chão. O Ouricinho que ainda se espreguiçava, cheio de sono, de patinhas no ar, repetiu, de olho bem aberto .
- Vamos a Roma?
- Sim. Antes vamos tomar o pequeno almoço. Depois saímos logo, está bem?

- Oh! Sim, sim... Eu só quero leite com corn flakes...
- Eu também!

O Ouricinho estava sorridente, como é seu hábito. Ainda despenteado – mas quem consegue pentear aquele ouricinho?!- ajustava os calções de banho.
O Ratinho olhou para ele, crítico.
- Não tiras esses calções ridículos? Já não estamos na praia e estás no Outono...

O Ouricinho não lhe ligou e  foi a saltitar pelo corredor até à cozinha, espreitando tudo.
Pareceu-me, no entanto, que a censura do  Ratinho Poeta tinha ficado lá dentro a remoer, mas ele fingia que não. A verdade é que estava a hesitar sem saber o que decidir. Por fim, deve-lhe ter dado razão pois mais tarde já não trazia os tais calções. Que, aliás, nunca mais vi!

- O que é isto?
O Ratinho foi logo ver.
- Um pisa-papéis, com certeza, disse com uma expressão séria.

O Ouricinho ria, porque tinha conseguido chamar-lhe a atenção.
Fomos tomar o pequeno almoço. Empoleiraram-se à janela da cozinha, a ver a rua.
- Que linda rua! Que lindas cores. Já viste?

Não sei se falava para mim, mas o Ouricinho é que respondeu, todo contente:
- São as cores de Roma! Ocre e vermelho!

- E as flores tão lindas!
- São ciclaminos..., disse eu.

Sorri, detrás  das tigelas cheias de leite e  corn flakes, e abanei a cabeça, enternecida com aqueles dois.


Roma esperava-nos lá fora. O sol brilhava e batia nos sampietrini

A luz era magnífica!

Por onde íamos começar hoje?...



(*)
O sampietrino (ou sanpietrino) é o nome popular dado à caçada típica de Roma, em cubos de leucitite (uma pedra vulcânica) que se encontra na região do Lázio, onde Roma se encontra. Inicialmente foi criado, em 1725, para pavimentar a Piazza San Pietro, com lages especiais, para a carruagem do Papa. Depois, o seu uso espalhou-se pela cidade toda.


terça-feira, 30 de outubro de 2012

VOLTAR A ROMA...


Ratinho Poeta e Ouricinho, descobrindo Roma, deslumbrados!

O que dizer? É uma emoção enorme e difícil de analisar: entre curiosidade e nostalgia, entre o medo de não encontrar o que se viveu e agora parece só um sonho? 

A angústia de não encontrar os velhos  sítios amados e as pessoas que os enchiam com a sua magia: a da amizade, da compreensão e do saber viver “romano”? Saber que não somos os mesmos e que os anos correram sobre nós?
Ou foram os anos que ficaram parados e nós é que corremos?...
Campo de' Fiori


No táxi que nos levava de Fiumicino à Via della Chiesa Nuova onde íamos ficar a convite de uma grande amiga (romana), o medo vai-se desvanecendo.


Fiumicino, à chegada

"Roma é Roma!", pensava eu. Não podia mudar...

Os meus amigos romanos acrescentariam que estava: “uguale-identica ... punto e basta!”

E tinham razão, é assim mesmo Roma: imutável na sua mutabilidade constante e na assimilação de tudo o que a invade.

O “tassinaro”, siciliano domiciliado em Roma desde a infância, é completamente "romano" e vai filosofando sobre a vida, num tom entre o divertido e o cínico, à procura do efeito teatral –próprio de todo o romano que se preza.

- Ah!, dizia ele, o momento que se vive é o que conta! A vida é breve e é só uma, não voltamos cá outra vez. É uma oportunidade que não se repete nunca mais.

E vai falando, falando e lembra-me a célebre sentença da ode horaciana: Carpe Diem, quam minimum credula postero...”




("Não queiras saber o que os deuses te reservam (não podemos) a ti, a mim. (...) Enquanto falas, o tempo, invejoso, já passou (fugerit invida aetas...): aproveita o dia de hoje, sem grande fé no que há-de vir amanhã...”)


- O momento da chegada, do aeroporto, ficou para trás e não volta...

O táxi corre e olho em volta, à procura de indícios, de pontos  de referência. Perco-me em meditações... Com elas, chegam as lembranças escondidas bem lá no fundo da alma.

A paisagem corre e eu descubro na minha imaginação o que quisera esquecer: nós, os miúdos, os “Orti della Sibilla” – onde ficava a nossa casa da Via Cassia, o Zac acabadinho de chegar da Giustiniana onde o Diogo o encontrara abandonado, de pelo todo espetado e olhos cheios de doçura...


De repente, tudo se revela: Roma está perto!

Os pinhais da EUR, a interminável avenida Cristoforo Colombo e, depressa, os Fori Romani, a Basílica de Masenzio onde se faziam os concertos e se ouvia ópera, no Verão e até havia cinema!

A seguir (ou antes?), a Porta  de Tito, tudo corre à minha frente, sem tempo de fixar na memória.
imagem retirada da internet, mostrando a Piazza Venezia e o monumento

De repente, a Piazza Venezia e o monumento a Vittorio Emanuele II. Rio-me, claro, a pensar nos inúmeros nomes que lhe ouvi chamar: “máquina de escrever”, “bolo de noiva”, etc...
imagem retirada da internet

rua de Roma

E o centro storico, nas suas cores quentes de ocre avermelhado e de castanho. Olho à esquerda, à direita, quero abarcar tudo: é Roma!

fachada do Palazzo della Cancelleria

Via del Governo Vecchio, ao entardecer

pormenor da Via del Governo Vecchio

A mesma Roma onde vivi quinze anos e que é uma das minhas pátrias. 

 ao fundo deve estar o rio, e o seu passeio à beira-rio, o Lungotevere,  com os plátanos e olmos de folhas douradas, na bela tarde outonal.


Sim, o Outono e Roma e os dias de sol de Outubro, as célebres “ottobrate romane”.

O táxi gira  na Piazza della Chiesa Nuova. Chegámos...



Via del Governo Vecchio


Piazza Santa Maria della Pace, imagem retirada da internet

Ali muito perto está a Via del Governo Vecchio, a Via del Corallo, a Piazza del Fico, a Via della Pace  com a sua igreja, e, andando andando, encontrarei  a Piazza Navona...


Piazza Navona

Mas, para já, espera-me a tarefa de desfazer as malas – as odiadas malas, a coisa mais horrível das viagens!

Voltarei em breve, para contar  mais coisas!




(*) Horácio -Quintus Horatius Flaccus- nasceu em Venusia, na Apúlia, em 65 ªC,  e morreu 8 anos antes de Cristo nascer.

Voltando à acção: dever de lembrança!


DEVER DE LEMBRANÇA


Cito o blog “Cozinha dos Vurdóns” onde leio do reconhecimento pela Europa do Holocausto cigano - Cerimónia em Berlim, para a qual foi convidado  o presidente da Comunidade Romani “que aproveitou para denunciar  a cruel perseguição a que estão submetidos os ciganos, hoje ainda – depois de terem passado 70 anos sobre o horrível crime que representou o “Porrajmos” (nome romaní para “holocausto”):

Em tempos de paz, temos que lutar por ela, em tempos de guerra, temos que lutar contra ela.
Um novo começo é sempre uma esperança, na qual precisamos aliar paciência, discernimento e muito carinho.”, concluem as minhas amigas dos Vurdóns.


Paolo Ucello, e as virtudes: "Esperança"

"a estrada é dura, mas temos de andar em frente!"

De acordo com vocês, amigas, completamente!


domingo, 28 de outubro de 2012

Voltei! Com o Ratinho e o Ouricinho...

Hoje vou escrever pouco, mas quero dizer que já voltei e que Roma estava bellissima!...


Fala-se muito das "ottobrate romane" - os dias de Outubro em que parece voltar o Verão e o sol, como poalha de ouro, cobre a cidade.



Lá estava esse ouro nas paredes de Roma. Nestes dias, o sol brilhou, aqueceu...

E os Romanos, cheios de turistas até aos cabelos, com as mesas e esplanadas invadindo ruas e ruelas... resistem!

Escondem-se nas ruas ainda sem ninguém.






E pensam que cada dia é um dia novo... Vamos aproveitá-lo o melhor possível!





 BOA NOITE!