quarta-feira, 21 de novembro de 2012

"O Cairo Novo", de Naguib Mahfouz, pensando já no Natal...




"O Cairo Novo"  (Cairo Modern) foi escrito em 1945. O seu autor, o egípcio Naguib Mafhouz (nasceu em 11 de Dezembro de 1911 e morreu em 30 de Agosto de 2006), foi Prémio Nobel de Literatura, em 1988.

O livro é a história de quatro amigos. Três deles vivem no mesmo prédio, na residência universitária, na esquina da rua de Rashad Paxá, e estudam na Universidade. 

Estudam, têm amores, ambições, discutem e divertem-se.

O quarto é um jornalista que passa por casa deles, de vez em quando.

Vêm de classes sociais diversas, uns têm mais posses do que os outros. Uns são religiosos, os outros não. Simplificando: são muito diferentes, mas são amigos.

Ali Taha, o apaixonado e idealista Ali, Mamoun Radwan, o estudioso e religioso, Ahmed Bider o jornalista independente, e Mahgoub Abdel Daym, o ambicioso, o cínico Maghoub.

Vai ser de  Mahgoub que o autor se vaio ocupar mais longamente.



Herói negativo, no fundo, espécie de Jean Sorel de Sthendal - ou de tantos outros heróis que procuram no poder a realização pessoal, tudo sacrificando para essa ascensão, a começar pelos “valores” e pela amizade.

Trilogia do Cairo, edição egípcia

O romance começa com as conversas e discussões dos jovens estudantes, quase no final do curso. E vai acabar com algumas desilusões. E a separação inevitável.

Mahgoub segue o seu percurso acidentado, a sua fome em todos os sentidos. Ambição desenfreada, insuportável pobreza, tudo vai cimentar um egoísmo feroz e o desprezo de tudo.

A ambição política, claro. Porque, para eles, tudo é política.

Dizia Mafhouz: "Em tudo o que escrevo vão encontrar política. Pode não haver histórias de amor ou outros assuntos mas a política está sempre; é o ponto axial do pensamento."


Enquanto os outros falam, se abrem, ele apenas comenta com a breve interjeição céptica,  a propósito de tudo, sem nunca se comprometer: um “tozz!”, redutivo.

Nazr City, onde Mahfouz está enterrado

A melhor melhor equação do mundo consiste em: religião+ciência+filosofia+moral = tozz!”, respondia-lhes ele.


A sua filosofia - comenta o autor-  consistia na “liberdade, na sua percepção egocêntrica, e o “tozz” era a sua mais exacta insígnia. Era a emancipação de tudo: dos valores, dos ideais, das crenças, dos princípios. Em resumo, toda a herança da sociedade.”

O mal e o bem? Essa dualidade não existe! Só acredita em si próprio, só luta por si próprio.

Um dia interroga-se, dubitativo: "terá o altruísmo o mesmo encanto do egoísmo?”

Nihilista, sem escrúpulos e sem esperança? Aposta tudo e aposta mal. A hipocrisia de que se rodeia vai ser fatal.

No sacrifício de tudo, dos próprios pais e da honra, tudo vai perder.

"O que poderia fazer um egoísta da sua laia, que neste mundo tão-só se preocupava com a sua pessoa quando as forças da desgraça se aliavam contra a sua  felicidade?”

Livro de grande inteligência e perspicácia que soube bem falar da realidade egípcia, realidade que soube “adivinhar” e compreender, mesmo no que se refere aos dias de hoje, às recentes “revoluções da Primavera”...

No final, quando Mahgoub desaparecera já das suas vidas, dirá Ahmed Bide, o jornalista:

Porque estão já a brigar? A hora do combate ainda não chegou!

E o livro termina:

Os três companheiros, amigos inimigos, sorriram após o que trocaram olhares carregados de significado como se os três se interrogassem: «O que será que nos reservas, ó futuro?»”

Obras de Mafhouz: 

"Old Egypt" (1932); "Cairo Modern" (1945); 



A Trilogia do Cairo: Palace Walk (1956), Desire Palace (1957),  Sugar Street (1957); 




The children of Gebelawi (1959, também chamado Children of our Alley) -o mais famoso dos seus livros- foi proibido no Egipto por alegada "blasfémia". 



A novela Miramar (1967) que gira à volta da figura feminina de Zohar a jovem empregada da pensão "Miramar",  de Alexandria.




O Escritor, apesar de ameaçado de morte pela "fatwa" lançada pelo sheik Omar Abdul-Rahman (quase "realizada", em 1994, quando foi apunhalado e ferido gravemente no pescoço e num dos olhos), continuou até ao fim da sua longa vida a escrever a sua "crónica" da sociedade egípcia. Em 2006, teve funerais de Estado...
O "sheik cego", Omar Abdul

O sheik Omar cumpre prisão perpétua numa prisão americana, acusado de  estar implicado no atentado ao Wall Trade Center de N.Y e noutros atentados terroristas.

O Cairo Novo foi  publicado pela Civilização Editora. Recentemente saiu a novela Miramar, entre outros. Outros livros também saíram na Difel e na Contraponto.


Civilização
Contraponto
Difel
Civilização




2 comentários:

  1. Gostei de ler o post.
    Queria ler alguns destes livros e ainda não consegui.
    Vou lendo o que é possível...
    Boas sugestões para o Natal.
    Das melhores prendas para dar e receber: livros!
    Um beijinho

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  2. Eu só vi um filme, rodado em México, inspirado no livro dela "El callejón de los milagros", que recebeu o Premio Goya, e lembro-me que Mahfuz foi candidato ao Príncipe de Asturias de las Letras, sei que tem uma extensa e importante obra.
    Gostei do teu post, é bom que recordemos a tanta gente maravilhosa que vai caindo no esquecimento.
    Beijinhos

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