sexta-feira, 31 de maio de 2013

Bom fim de semana! Com "Monsters Over Bangkok" e The Lounge Lizards...

à esquerda, uma pintura de John Lurie, sentado à direita...

Scorpions "Send Me An Angel" para o fim de semana...



A história deste disco "Scorpions BEST" é muito simples: um dia, fui a Portalegre com o meu filho Diogo, visitar a minha mãe.

Arsénio da Ressurreição, arredores de Portalegre 

Parámos numa bomba de gasolina, já no Alentejo. Tomámos café e eu comi um bolo (eu, claro, uma queijada!) e ficámos a olhar os campos do lado de lá da auto-estrada. 


Somo os dois um pouco contemplativos e silenciosos de feitio...

O Diogo e a mãe dele, em Telavive

Dei umas voltas a ver se emcontrava algum livro e  vi uns CDs à venda. E ali estava o disco dos Scorpions! 


Eu sempre gostara deles há anos, e fora o Diogo que me tinha metido essa ideia na cabeça...porque tinha alguns álbuns em Roma. Lembrava-me bem do Tokyo Tapes!



Entusiasmei-me :


- Ah! Vou já comprar este! Não tenho nenhum deles...
- Compra, compra, mãe, que eu ofereço-to!
Irónico e meigo, como ele é, foi pagar à caixa e deu-mo...

O Diogo, com o Zac, em Roma


E por aqui anda o disco sempre à minha volta, na estante atrás do meu sofá. Qando estou sozinha, ponho-o! Porque nem toda a gente aqui em casa gosta deles...

Shiu... Hoje é sexta-feira e...
Boa sexta-feira,a migos! Daqui a pouco é domingo!



Aqui fica um "monte" de músicas, para ouvirem no fim de semana!









quinta-feira, 30 de maio de 2013

Verão em Roma, tanti anni fa... e um pouco de policiais...




Vivia em Roma e estava habituada ao calor abafado e húmido que ia aumentando, gradualmente, de Maio a Junho, começando já em finais de Abril, com dias de sol maravilhosos, céu azul e algumas chuvas esquecidas. 


E o sol brilhava de repente...

Eram muito quentes certos Agostos em Roma...




Já nos tínhamos esquecido do Inverno quando chegavam as chuvas do ferragosto - que era o meio do mês, afinal- e começavam as trovoadas súbitas e chovia torrencialmente dias seguidos.

O ferragosto assinalava o fim do Verão e coincidia com o dia do feriado da Senhora da Assunção. 

Nesse mês, quem ficava em Roma, vivia a cidade livremente porque os habitantes a tinham abandonado para irem em  villeggiatura para o mar: fosse ele o da Maremma toscana, ou o mar de Rimini, ou  as praias do Adriatico.

Ou para a montanha! Gostavam muito de ir até aos Dolomiti os romanos.


A cidade, esvaziada de gentes e de carros, revelava o amarelo  dourado dos seus prédios, o ocre das praças, e o “rosso veneziano” de certas fachadas.



Os passos ouviam-se na Via del Corso, como antes se não ouviam, ou na Piazza Colonna, bellissima. 





Também, à volta do sempre visitado triângulo da Piazza  della Rotonda, Piazza Navona, Piazza Farnese.



Estamos quase no Verão... 

Por que me lembro de Roma e de Agosto? Se hoje quase chove! E nem vai haver Verão este ano...


O tempo passou. O tempo não volta.




Para me animar,  fui buscar um pedacinho de Verão ao meu romance policial, que se passa em Roma...




         "Michael Brenner olhava o fluir das pessoas. Uma mancha de cor. Ia mexendo devagar o capuccino, um pouco pensativo. Lembrava as palavras de Roberta, dias antes, depois as queixas que lhe fizera.

"Fui parar, nem sei como, à Piazza del Popolo, contara-lhe ela. E reconciliei-me com a vida. Fiquei sentada a ver a praça, na luz do poente, as pessoas que andavam para trás e para diante. Até os carros e o trânsito me souberam bem. Sentia-me amparada, ali!"


Sim, tinha razão. A  Piazza del Popolo àquela hora, ao cair da tarde, era uma mancha de cor, com o rosado e o ocre das fachadas, que se acentuava, no azul deslavado do céu que apontava para a noite e não se sentia sozinho.

As duas igrejas desafiavam-se, gémeas e grandiosas, o obelisco erguia-se ao centro, os motorini estacionados lado a lado. A Via del Corso acolhente iluminava as montras.


As duas Igrejas gémeas

A fechar a praça, estava a Igreja de Santa Maria del Popolo, guardando as suas magníficas telas de Caravaggio.

E, ao lado, a Porta del Popolo por onde entravam e saíam os carros, motoretas, autocarros, sem saberem, nem quererem saber,  qual tinha a precedência: quem chegava primeiro, passava. Isto só o vira em Roma...
Santa Maria del Popolo

E, no meio da poalha de luz, as pessoas andavam, sem correr. Admirava a vivacidade dos italianos, a alegria, os risos, os gestos, os corpos que se moviam, elegantes. 
Tocavam-se, às vezes, falando alto e agitando as mãos, e seguiam sem pressa.
Pensava em Paola. Preocupava-o.

Giovani Giacometti,  Menina


Tinha ido visitá-la uma vez mais à Galeria, ao pé do Lungotevere. Adorava aquele passeio, dava voltas com a moto, atravessando uma ponte, virando a seguir, no outro sentido, pela ponte mais próxima, de uma margem para a outra do Tevere, a observar as diversas perspectivas. A luz única do cair da tarde sobre o Castel Sant'Angelo.

Às vezes, ia  até à Isola Tiberina, era sempre diferente a luz, as cores, as sombras da noite a cair sobre a cidade. O rio a escurecer lá em baixo. Como amava aquele rio!



A dada altura, quase contrariado, estacionava a moto. E continuava a  deambular por ali, debruçava-se no parapeito para ver o rio, à espera que o sol dourasse o fim da tarde. E que a noite descesse e os candeeiros iluminassem o lungotevere.


Lungotevre, em Roma

Seguia, então devagar pela Via delle Mantelate, até à  Galeria. Ia ter com ela. 

Mas ela não ia ajudá-lo, continuavam as indecisões, os silêncios. Não percebia por que razão ela odiava tanto o Conde Orsini. 
"Ao ponto de o ter assassinado?", perguntava a si mesmo e não era capaz de responder. Tantos mistérios. Quem matara aquele homem que, no fundo, ninguém conhecia bem?

O sol desaparecera e a Piazza del Popolo, na noite de Verão da cidade vazia, acompanhava-o. "

(in Morte de um desconhecido)

GEORGES BRASSENS SEMPRE!- LES AMOUREUX DES BANCS PUBLICS

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terça-feira, 28 de maio de 2013

Um pintor fauvista/ expressionista suíço: Cuno Amiet!

Cuno Amiet, Mãe e filho (1889)


Costuma-se dizer que atrás de uma cereja, outra vem... 


Atrás de um pintor e de um quadro, que descobrimos, outros aparecem. 

Foi assim, que fui parar à Suíça e descobri que, além do magnífico chocolate, da natureza esplendorosa e protegida, dos lagos, das neves eternas dos glaciares e da paisagem verde, com os chalets empoleirados (bem, e do relógio de cuco!), outras coisas há.

Têm também o sossego (de vários tipos) e, por isso  dois grandes personagens da cultura se acolheram : Charles Chaplin, em Vevey,  e Simenon, em Lausanne.

Mas, na Suíça, há Arte, claro!

Conhecia Blaise Cendrars, mas raras vezes me lembro que ele é suíço. 

A minha amiga Jeanne, suíça,  falou-me do poeta Amiel, e mostrou-me passagens do seu "Diário", muito interessantes.


Amiel


Cuno Amiet, Auto-retrato

Hoje descubro Amiet, o pintor Cuno Amiet...

Cuno Amiet nasceu no Cantão de Solothurn, um dos vários da Suíça,  em 28 de Março de 1868 e morreu em 1961, no dia 6 de Julho.

Na wikipedia vejo: 

Pintor suíço, ilustrador, artista gráfico e pintor.(...) Foi o primeiro a dar precedência à cor sobre a forma e foi um precursor da Arte Moderna, na Suíça.”
Cuno Amiet, Mulher a trabalhar no campo

Frequentou a Academia de Arte de Munique de 1886 a1888, onde se tornou amigo do italiano Giovanni Giacometti, também post-impressionista e pai do famoso escultor e artista plástico, Alberto Giacometti.  
Giacometti (pai) "Pensativa", 1913

Giacometti (filho) Mulher de Veneza II, 1956
Auto-retrato com maçã

De 1888 a 1892 foram os dois para Paris, estudar na Académie Julian, tendo como mestre William-Adolphe Bouguereau.


Descontente com o ensino da Arte "académica", Cuno Amiet junta-se à Ecole de Pont-Aven, na Bretanha, onde vai ser aluno de Emile Bernard, de Paul Serusier, Maurice Denis, Mestres do movimento dos “nabis” (***).


um maravilhoso Maurice Denis


Paul Serusier, La laveuse

Onde encontra Gauguin e Van Gogh...


Émile Bernard, "O perdão em Pont-Aven" (1888)

Van Gogh, "Mulheres bretãs" (inspirado em Emile Bernard,1888)


Paul Gauguin, "Sermão e visão em Pont-Aven" (1888)

Paul Gauguin, "O Cristo Amarelo" (1889)

Paul Gauguin, Pont-Aven

Van Gogh, "Pietà", cópia de um quadro de Delacroix (1889)

Auguste Renoir tem também o seu período em Pont-Aven... Os temas aproximam-se, as cores e as pinceladas difetem.


Renoir, Pont-Aven

Renoir, "O Calvário em Pont-Aven"

A Escola de Pont-Aven que reuniu, em redor da forte personalidade de Gauguin, uma série de jovens pintores à procura de uma liberdade não-académica.

Como diria depois  de si mesmo Gauguin: “O direito de ousar tudo”. Ele que não mentia e ousou de facto tudo!
Gauguin, Auto-retrato (1889)

Pouco a pouco, nesta pintura, surgira o afastamento do impressionismo e da pintura da realidade (en plein air) ao ar livre, em plena luz. E partem à procura de outra harmonia - essa existente fora do real.

E o que passa a ter importância é a cor! As formas contorcidas! O grito do irreal presente em tudo!

As cores fortes, as personagens hieráticas das mulheres bretãs com os toucados de formas estranhas, “voadoras”, que lembram asas de  anjos; ou as medas de trigo com tons de vermelho vivo, ou cor de ferrugem; ou as figuras verde-chumbo do Cristo morto, de Gauguin. 

Paul Gauguin, O Cristo Verde (1889)

Gauguin, Auto-retrato com Cristo Amarelo

As árvores azuis ou os campos vermelhos gritam como num manifesto. 

O "fauvismo" cria-se, inventa-se.  

"Fauvisme" vem da palavra francesa “fauve”. Eles eram “les fauves”, as feras, como lhes chamaram os críticos, devido às cores vivas e violentas dos seus quadros.


O "Fauvisme" no Salão de Outono em 1905

Simbolismo? Surrealismo? Era tudo, tudo tinham ousado como dissera Gauguin. Tinham conquistado o direito à liberdade e à poesia. E ao sonho!

Se o Simbolismo dava a primazia ao sonho e ao mistério, aos fantasmas ou às visões proféticas e oníricas, então, aqui, com os pintores de Pont-Aven, criou-se, em certa medida,  o caminho para ele.

Pintor expressionista Amiet? 

Sim, também,  "porque os pintores ditos “expressionistas” (**) defendiam uma arte “intuitiva”, pessoal, expressiva, onde predominasse a visão “interior” do artista (expressão) sobre a plasmação da realidade instantânea (a impressão)" (wikipedia).
Amiet, "Velha mulher bretã"

Tudo isto Cuno Amiet encontrou em Pont-Aven. E tudo absorveu e tudo o interessou, deitando cá para fora a sua "visão interior" do real.

Escolhe as cores puras, fortes, deixando as composições tonais.

Em 1893, por questões monetárias, vê-se obrigado a deixar Paris e Pont-Aven e volta à sua terra natal. 


Amiet, Menina com flores (1896)

Jarra de flores (s/d)

Abre um estúdio em Hellsau.

Em 1894, uma sua exposição na Kunstehalle Basel é mal recebida. 

Continua a trabalhar, a pintar.

O sucesso vem em 1898, com um retrato que não encontrei do pintor de Ferdinand Hodler, pintor suíço conhecido.
Hodler, Auto-retrato 1915

Em 1899, Amiet ganha uma medalha de prata na Exposição Universal, com o  quadro intitulado Richesse du soir


Depois de 1900, participará em várias exposições, na Europa. 

Cuno Amiet,1918


Em 1953 pinta um magnífico auto-retrato com as cores de Pont-Aven...
Auto-retrato, 1953



Encontrei várias imagens dos quadros de Amiet neste site de leilões "artfact":

 http://www.artfact.com/auction-lot/cuno-amiet-63-c-h5c90iiaaq

*  *  *
Amiet, 1905?


(*) Como dirá o pintor Maurice Denis, que é um dos expoentes maiores do movimento "nabi": "a Escola de Pont-Aven teve uma grande influência em muitos artistas que se reuniam em volta de Gauguin naquela aldeola.”

(**) “O expressionismo acaba por ser visto mais tarde como a “deformação” da realidade - para exprimir (expressar) de forma ainda mais subjectiva a natureza do ser humano.” (wikipedia

(***) Os “nabis” (em hebraico e a palavra para  “profetas”) é um movimento pictórico de influência religiosa e oriental – com uma tendência mais decorativa do que tivera o simbolismo. 
Nos finais do século XIX,  surge a “descoberta” da Arte Japonesa. De facto, a abertura da École des Beaux-Arts, em 1890, coincide com a "Exposição de Arte Japonesa".
Este movimento revela o seu interesse profundo por este tipo de arte.