quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Lição de vida: Navegar é preciso! mas ....viver também é preciso!

Caetano e Chico- Os Argonautas


O barco/meu coração não aguenta/tanta tormenta/alegria(...)/O dia, o marco, meu coração/o porto, não!





"Barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...
O Barco!
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso 
O Barco!
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso..."

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Falando de livros... Um novo policial!

Voltando aos livros, de que nunca me afasto muito...


Desta vez venho falar de um escritor policial russo. Encontrei uma entrevista com ele há uns meses (2 de Março de 2013) num suplemento literário do Financial Times.

Falo de Boris Akunine, aliás, Grigory Chkhartishvili que nasceu, em 20 de Maio de 1956,  na Geórgia post-staliniana. Nasceu, pois, em Zestafoni, filho de pai georgiano e de mãe judia, professora de Literatura Russa. Mudam-se para Moscovo quando ele era ainda uma criança.
Zestafoni, na Geórgia


Filólogo e tradutor, interessa-se pela língua e pela cultura japonesa. E pelo Zen.
Aos 40 anos, decide que não lhe apetece continuar a fazer a mesma coisa, monotonamente, a vida toda e, por isso, começa a escrever.



Procura escrever um género de histórias que –segundo o que ele próprio conta- ele próprio e a mulher gostassem de ler... Gente como eles, culta, com uma certa exigência e, ao mesmo tempo, com o desejo de se alhearam. Assim, escolhe os romances policiais.

É discutível se a literatura policial – a quem alguns chamam “escapista”- será um alheamento. Não sei. 
Por que não será antes um mergulho, bem fundo, na psyche humana, sempre a precisar tanto de arranjo?



O pseudónimo escolhido revela algo de si e da sua curiosidade  pela Rússia czarista pré-revolucionária: Boris Akunine (B. Akunine), quem não pensa logo em Bakunine (Mikhail Bakunine), o anarquista russo? Akunine escreveu cerca de 50 livros, em 15 anos, o que é  muito. 
Escreve o entrevistador, John Thornhill: "O seu estilo mistura literatura russa, boa e má, e divertimento."

Levyathan

Gustave Doré, Destruição do Levyathan

O herói dos romances é Erast Fandorin, um misto dos seus heróis preferidos dentro da literatura (russa).
Este é o rosto de Erast Fandorin, numa série televisiva




Quimicamente, responde ele para surpresa do jornalista, misturei o Príncipe André Bolkonsky, da “Guerra e Paz”, com o Petchorin d’ “Um herói do nosso tempo”, de Lermontov".
a morte do Príncipe Bolkonsky (aqui, o actor russoYacheslav-Tikhonov)

O escritor Mikhail Lermontov


Casa-Museu Dostoievsky, em São Petersburgo


Na entrevista não refere isto, mas outro personagem da "mistura" de Fandorin é o Príncipe Myshkin, de "O Idiota" de Dostoievsky. Portanto, escolheu os maiores!





E (surpresa maior!) tem um pouco de Sherlock Holmes e de James Bond! E uns toques de Zen, que tirou da cultura do Oriente que aprecia.



Fandorin é popular porque – explica- tem tudo o que falta na nossa mentalidade russa. Tinha de ser moderado, porque os russos são excessivos, um homem de ordem, quando os russos preferem o cáos, e é também bastante confuciano.”

Continua: "Começou deste modo. Mas quando nos começámos a conhecer melhor, ele passou a ter uma vida própria. E começou a ser bastante desobediente...”

(A entrevista interessantíssima de John Thornhill que foi correspondente  do jornal F.T., em Moscovo, nos anos 90 foi realizada no restaurante russo Mari Vanna, na zona de Knightsbridge.)




Mais elementos sobre Boris Akunine:


Com o seu nome verdadeiro participou na edição de uma obra em 20 volumes de uma Antologia da Literatura Japonesa. Escreveu  “O Escritor e o Suicídio”,  The New Literary Review, Moscow, 1999.


Traduziu vários livros de Literatura Japonesa, americana e inglesa. Foi Director-Chefe da Biblioteca Pushkin.

O primeiro romance de Fandorin intitula-se a Rainha de Inverno e foi publicado na Rússia em 1998. A sua última novela saiu em Novembro de 2012.



as jóias da coroa...


Leio neste momento a tradução francesa (na colecção 10/18) de A Coroação do Último dos Romanoff, publicado em 2000, na Rússia, e traduzido para inglês em 2009.




terça-feira, 29 de outubro de 2013

Falando de chá...

Não, não falo de “boa educação”, falo mesmo de chá! O perfumado, tranquilizante,  o maravilhoso chá!
dois amadores de chá!

Chá, cá em casa

Copo de chá, em Marrocos (que se bebe com hortelã)


caneca de chá para todos os dias...

Chá na Cozinha dos Vurdóns


Eu cá adoro o chá (sem esquecer o café!)! Chá de todos os tipos, do verde ao branco, passando pelo preto, pelo fumado e etc.

Caneca de chá, para todos os dias...

E igualmente pelas ervas benéficas:  das camomilas às verbenas passando pela cidreira e pela tília. Tudo a seu tempo, conforme  dia, a hora e o mood.

Hoje lembrei-me do chá dos Açores, porque bebi, há bocadinho, um chá verde. Era chá dos Açores, chá da Gorreana...

plantação de "camellia sinensis", São Miguel

Os Açores são um território impressionante, já disse aqui, pela riqueza da sua flora. 


as hidrângias dos Açores


Deslumbrou-me a diversidade das árvores, das flores, das ervas. Até as ervas daninhas eram belas no seu verde brilhante. 

Açores e incenso, planta invasora

E as plantas ditas "perigosas" - porque invasoras, desenvolvendo-se a um ritmo forte- perfumam e trazem beleza: o incenso, a cana indiana ou canteira...

incenso




A história do Chá


E passo ao chá dos Açores!

Chegou a São Miguel, vindo da China, através do Brasil, no século XIX. A data supõe-se que foi 1878. Os Açores viviam nesses anos a crise da laranja e o cultivo do chá veio resolver o problema – foi a alternativa encontrada.


Primeiro chegaram as sementes, como é óbvio. Eram as sementes da “camellia sinensis”, ou camélia da China, planta que está na origem do chá verde e do chá preto. 

flor e folhas do chá


Depois, tiveram de vir especialistas para ensinar como se "fazia" o chá. O primeiro e o segundo chinês. O primeiro vinha ainda com muitas dúvidas. O segundo tornou São Miguel numa terra produtora de chá.

folhas de chá

Chá, em Londres

Foi introduzida nomeadamente em São Miguel, em 1780, transportada nas naus que retornavam do Oriente. Primeiro, na Ilha Terceira, de onde terá sido exportada uma parte em 1801 para Lisboa. 

colheita do chá

Descoberto pelos portugueses e trazido para a Europa, na época dos Descobrimentos, o chá tornou-se uma moda e um luxo entre a aristocracia europeia. (...) As sementes foram trazidas pelo micaelense Jacinto Leite, Comandante da Guarda- Real de D. João VI, que chega a São Miguel em 1820."(wikipedia dixit)

taças para chá, no Japão

à espera do chá,  em São João


De facto, pelo clima especial, vai ser o único lugar da Europa em que se planta, colhe e trata o chá...

Nota: 

"O chá e as suas variedades: existem chás diferentes, da mesma planta, de acordo com o cultivo, a colheita e a preparação das folhas. Distinguimos quatro categorias: o chá branco – não fermentado, com as folhas mais tenras, mais raro e mais caro; o chá verde – levemente fermentado; o chá "oolong" com fermentação média, entre o chá verde e o chá preto;  e o chá preto –bem fermentado, mais forte do que os outros."


Chá oolong

A vida continua e a memória fica! E o Outono está aí..

Ouçam Ella Fitzgerald / Joe Pass /"Autumn"

Van Gogh, Outono em Arles, 1988

Van Gogh, Olivais

O sorriso de Ella...




domingo, 27 de outubro de 2013

Morreu Lou Reed - "Perfect Day"...





Espanto e tristeza: morreu Lou Reed! 

Parece impossível tal era vitalidade deste músico extraordinário! Desta personagem marcante da nossa época.

A sua história no rock, com os Velvet Underground, é famosa.

Nasceu em Março de 1942, num bairro pobre de Brooklyn, morreu num domingo de manhã, tal como falava na canção dos Velvet Underground  - o grupo que fundou, em 1964, com John Cale.

A sua vida, excessiva em tudo, a destruição consciente e contínua, pelo álcool,  o querer viver sempre no “wild side”, no lado selvagem  da vida, culminou no transplante de fígado e, inevitavelmente, ... na morte.

Tudo foi já dito. Morreu num domingo de manhã, hoje  mesmo, como na canção.  

Tinha 71 anos apenas... 

Vai fazer-nos falta!




No final deste dia de Outono, vamos ouvir Dexter Gordon "Misty"...




Bom domingo, com música! Hoagy Carmichael e "Hong Kong Blues" (1944)