terça-feira, 30 de setembro de 2014

O inefável Nestor Burma! Que será, sempre, para mim, o actor Guy Marchand...



Não posso esquecer esta figura dos policiais de qualidade. O herói de Léo Mallet, escritor francês, surrealista, o detective Nestor Burma.
Léo Mallet recria, à volta de Paris, uma série de novos mistérios de Paris, com assassinatos por bairros. Li muitos dos seus livro e adorei. 

Existe uma BD, muito boa também, de Jacques Tardi.




E um filme anterior (1981) em que o detective Nestor Burma é Michel Serrault - filme que nunca vi. 
Serrault/Burma

Grande actor Serrault, mas como não vi esse filme, para mim,  Burma é Guy Marchand! 
Vi e revi a série televisiva com ele: um actor, divertido, humano, que incarna como uma luva aquela personagem.



na Feira do Livro de Genève, 2011

Foi cantor, actor e músico variado – desde pianista a saxofonista, clarinetista, tocando jazz, blues e …tango.



Polifacetado, tem a capacidade de entrar em todos os papéis como se essa realidade fosse a dele. E, assim, "entra na pele" de Nestor, instalado no escritório pobre, mais o gato e a secretária, Hélène...


Guy Marchand (que de seu nome se chamava Guy Émile Marchand e que nasceu em Paris em 22 de Maio de 1937. Cresce em Paris no 19ème arrondissement, até entrar para a tropa. Começa a aventura, então: uma carreira militar integrando a Legião Estrangeira. 

Também ali apreciou a variedade: apaixonando-se pela queda livre: escolhe paraquedismo. É como paraquedista que participa na Guerra da Argélia, como oficial de ligação para o aprivisionamento das tropas.

Vai ser a esse título de oficial paraquedista que vai participar, no princípio dos anos 60 como conselheiro técnico do filme “O Dia mais Longo”. 

Entra também como inspector às ordens de Lino Ventura no terrível filme de Claude Miller “Garde à Vue” (1982) também com Michel Serrault. Todos magníficos actores!
É nesse ano que começam as aventuras da personagem de Nestor Burma –no tal filme em que Michel Serrault desempenha o papel principal. 

Dez anos mais tarde, vai ser Marchand o novo Nestor Burma. E durante muitos anos!

(Nota sobre Léo Mallet e aparecimento do herói Nestor Burma: 
"Em 1943, Léo Mallet se met à écrire des romans policiers adoptant d'emblée « l'écriture à la première personne, car j'avais remarqué en lisant La Moisson rouge de Dashiell Hammett et L'Adieu aux armes d'Hemingway, combien cela donnait un style plus spontané, plus direct. Selon la suggestion de Chavance, je pensais aussi à certains film comme Scarface »17.)

domingo, 28 de setembro de 2014

Ella Fitzgerald "Someone to Watch Over Me"

A vida é uma bela passagem. Primeiro tomamos nós conta dos filhos...depois tomam eles conta de nós...
 Tal como na canção..."Someone to Watch Over Me"






sábado, 27 de setembro de 2014

"Confissões"...nunca fui além...



Ontem lembrei-me do nosso "cantautore" Vitorino. E dos tempos do LP que se chamava "Leitaria Garrett" em homenagem à antiga Leitaria que tinha já desaparecido. 
No Chiado, na Rua Garrett do lado direito, lá estava a Leitaria, coisa que hoje não faz parte do nosso horizonte de hoje. Já nem do de ontem. 

"Comprar leite? Isso compra-se no supermercado!", dirão.

Nem sei se ainda há leitarias que vendam leite. Recordo algumas da Ucal...

Tempos atrás, no entanto, os amigos encontravam-se na "leitaria" para tomar um café, ler o jornal, fumar o seu cigarrito (que ainda era permitido porque não havia cancros "conhecidos") e estar na conversa toda a tarde. 

Alguns chegavam só depois de comprar o jornal da tarde. E discutia-se e falava-se. Era outro mundo!

Não sou saudosista, sei que o mundo gira todos os dias e traz coisas novas, boas e más, melhores do que a desses tempos umas e piores outras.

Mas não deixo de pensar nas pessoas que ali se reuniam...
Vitorino "recupera" os tempos das leitarias, começando por escrever e cantar a canção "Leitaria Garrett". 

Uma pessoa que eu conheço às vezes quase chorava ao ouvi-la, no "exílio" que até era amado. Saudades? Diz que não...

O que daqui tiramos é que a tal "saudade" que não se sabe explicar (não, não vou ao Fernando Pessoa!) a que o grande Camões chamava "gosto amargo de infelizes" é um contraponto da insatisfação e da viagem que é uma componente portuguesa, descendentes de judeus e de árabes. 

Poemas de nostalgia, de "desengano", da sensação de não se ter conseguido, de "não ter ido além" - são uma parte da "nossa" atitude mental perante a vida.  

Fados e "destino marcado" e a "sina na palma da mão" e as "lágrimas" são aos montes por aqui! 

"Ai os modos de ser lágrima":
ttp://youtu.be/MwgnpoVT4Xs

E toda a tragicomédia do "fado", na "Tragédia da Rua das Gáveas" faz-nos rir, no seu drama de "fadinho":


"De rosa ao peito sobe a rua airoso
 com a cruz ao pescoço
 que a Rosinha lhe ofereceu…
...
Vermelhinho, às tantas,
 vai parar ao Invejoso.
Bate um fadinho
 na rua dos Mouros
mas silêncio é ouro..."

http://youtu.be/MwgnpoVT4Xs

O drama está ali...
Mas há que reagir sem dúvida nenhuma!!!
Quando se parte, sim. E quando se fica também. 

Como bom alentejano, porém, Vitorino começa pelas Saias da Vila do Redondo –uma maravilha! E estamos todos salvos!
Também é bem bonita a canção “Andando pela vida”... Podem ouvir aqui.


Vitorino é um bom poeta e consegue equilibrar tudo isso com a alegria da música e quase uma ponta de ironia na letra. E deixa-nos a esperança...

"Vida dá-me a tua mão/Faz florir sempre o mês de Maio!"

Com outros poetas que o ajudam na sua tarefa: José Bebiano,  por exemplo, e António José Forte.




CONFISSÕES

"Nunca fui além

Do a noitecer em mar de bruma
Ingénua paz do dia
Deixa o sobressalto
Sonho de espuma

E se a brisa for
Vento sem Norte a todo o pano
Vai a bom porto
Vai barquinho de papel
Do desengano

Se este meu braço forte
Não fraqueja no momento
Espada cintilante
Acerta o golpe
Solta o veneno, cai ferrão
Cobre-me luz da Lua
(fada benfazeja)
do escorpião."

 (do disco "Leitaria Garrett")

ANDANDO PELA VIDA

"Passeio-me pela vida
Sem lamento
Malmequerem, bem querendo
Ai madrugada, não me faltes

Ao encontro no tempo
Das margaridas
Desencontros, despedidas
Tanta Primavera triste...

Na boca um gosto
D´Amor deixado
À rosa dos Ventos
No céu estrelado

Coração não me abandones
Na rua de andar sozinha
Deixa-me a força que tinha
Do esplendor da Estrela d´Alva

Cigarro não fumado
Copo no chão,
Vida dá-me a tua mão

Faz florir sempre o mês de Maio!"

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O sofrimento da guerra é sempre igual : um belo filme de Clint Eastwood!



Há filmes que nos impressionam mais do que outros, é evidente, quase uma verdade de La Palisse. E sempre por razões diferentes. Estados afectivos, fragilidades, momentos de emoção, cansaço, que, por vezes, nos tornam susceptíveis. Ou nos encontram mais sensíveis.

Falo do filme de Clint Eastwood - Cartas de Ywo Jima- que fala de uma realidade terrível, a da guerra. 
Infelizmente, realidade que nunca anda longe do homem, com o seu cortejo de atrocidades, injustiças ou heroísmo.
Neste caso, é a Guerra do Pacíficoepisódio final da Grande Guerra, em que americanos e japoneses lutam pelo domínio de uma pequena ilha : Ywo Jima.
O realizador apresenta a história vista de outro prisma, diferente da que estamos mais habituados a ver: é agora o olhar do Japão. 
O outro lado…
Já antes se dedicara a “retratar” o  conflito no filme intitulado "A Conquista da Honra".



Baseado no livro de James Bradley e Ron Powers, “Flags of Our Fathers”, foi apresentado em 2006. Nele referia o ponto de vista dos americanos, já depois da conquista de Ywo Jima.

"Cartas de Iwo Jima"- é apresentado por Eastwood dois meses depois desse outro filme.
japoneses...

americanos...
Duas faces do sofrimento e da morte, contadas de pontos de vista diferentes, em que a atitude, as motivações (no fundo as mesmas...), se apresentam com contornos diversos, pequenas "nuances".

A Guerra do Pacífico é considerada como um dos maiores e mais dolorosos  conflitos da Segunda Guerra Mundial. Dura apenas 40 dias, entre Fevereiro e Março de 1945, com a guerra a chegar ao fim -e quantos mortos! 

E mais virão ainda...

As pessoas reagem de modo diferente conforme a sua cultura e o mundo a que pertencem: neste caso é o Japão, o Império do Sol Nascente. 
A batalha de Iwo  Jima, aqui, é a luta pela conquista, por parte dos americanos, da ilha recentemente ocupada pelo exército  japonês. 

cena do filme “Flags of Our Fathers”

Posição vital, a 600 milhas apenas de Tóquio esta pequena ilha, com cerca de sete quilómetros de comprimento, no sopé do monte vulcânico de Suribachi, de cerca 180 metros de altura, será um ponto estratégico da Guerra do Pacífico


Essencial para os americanos poderem “alcançar” o Japão, ali querem criar uma base de onde o possam bombardear. O desembarque dos "mariners" é, pois, inevitável.
E é ela vai decidir da "sorte" dos combatentes. No caso, o "lado" japonês sai vencido. E é a esse momento de horror que assistimos.

No Japão, a honra é talvez mais "mitificada" do que no Ocidente e "obriga" a determinados gestos, a um ritual próprio em caso de ser enxovalhada.
Assim, muitos oficiais japoneses se suicidaram durante a batalha de Ywo Jima, fazendo harakiri. Outras vezes, um tiro de espingarda resolveu a dificuldade. Ou, impossibilitados de o fazer, um amigo dá-lhes o golpe de misericórdia.

Emocionam essas cenas de violência enorme, que, no entanto o realizador e a qualidade dos actores e as imagens a preto e branco conseguem transfigurar em cenas de grande beleza.

O General Tadamishi Kuribayashi (com um grande actor Ken Watanabe, no papel), é uma figura verdadeira, que existiu e foi o comandante da operação. Um homem de classe e coragem que tem como missão retardar o mais que for possível o desembarque dos americanos na ilha. Da sua acção, dependerá a sorte dos japoneses. Missão que sabe votada ao fracasso, mas que leva a cabo até à morte…

As “Cartas” do título são as que escreve à mulher, espécie de “diário” de campo. 
E não posso deixar de lembrar um livro de que já aqui falei: "Estas vozes que nos vêm do mar" que reúne as cartas dos soldados japoneses, enviadas às famílias, os queixumes, a tristeza e a vontade de defender a terra amada. 

No fundo, as pessoas são sempre iguais: amam, lutam, choram, têm saudades dos seus, têm reacções infantis, têm medo, matam e matam-se...

E sofrem sempre - seja em que campo que estejam...


Um dos pobres soldados - o ‘soldado-tipo’ de todas as guerras que não percebe por que está ali- deixara para trás a jovem esposa grávida. Ingénuo e esperto, decide que vai voltar a casa seja como for. Ferido, volta numa padiola, mas vivo. Também ele escreve cartas à mulher, cartas que nem sabe se seguirão...




Recordo uma figura inesquecível de utopista: a do Capitão (não recordo o nome) que fora campeão olímpico hípico.



Chega, orgulhoso, com o seu cavalo Ulisses, com o qual vencera os Jogos, decidido a lutar e morrer, sabendo que a batalha está perdida porque sabe que ninguém vira reforçar a unidade porque o exército imperial está perdido.

Será um fiel apoio do General Kuribayashi, no momento em que outros oficiais discordam da estratégia escolhida e lhe boicotam as ordens. Kuribayashi mandara escavar grutas na rocha vulcânica e tornar invisíveis, do lado do mar, as unidades com seus ninhos de metralhadoras.


Dentro das grutas, as emanações de enxofre da montanha vulcânica tornam a vida dos soldados e oficiais mais difícil.
Não há comida, não há água, não há munições. Resistem. Desde o dia em que o mar aparecera coalhado de barcos e os fuzileiros tinham invadido o areal que resistem.

Mas serão necessários 40 dias até que os japoneses se rendam, se suicidem, ou morram. 

"Durante os seus mais de 140 minutos de duração realmente adentramos aquele universo sufocante na qual os soldados japoneses eram obrigados a viverem durante meses, escondidos em cavernas e suportando o cheiro do enxofre sempre com a angustiante ansiedade da morte cada vez mais próxima. 
A fotografia de Tom Stern inclui tons cinza à medida que os fatos vão ficando dramáticos, a escolha dessa cor fria provavelmente foi inspirado nas rochas da ilha e no sacrifício físico passado pelos homens." (wikipedia)
durante as filmagens

Em 2007, o filme recebe o  Prémio do Golden-globe.
Em 2008, Academia Japonesa de Cinema premiou o filme, na categoria de melhor filme em língua estrangeira.

Clint Eastwood nunca desiste de contar as histórias que incomodam, filmadas do seu ponto de vista, e criticando as injustiças raciais (Gran Torino), a exploração das pessoas do desporto (A Million Dollars Baby) e outras injustiças.

Por curiosidade, deixo a frase em que ele confessa ao jornal El Pais o segredo de tanta vitalidade e juventude: “manter-se ocupado”. 

 “Mi secreto es el mismo desde que en 1959 hice Rawhide: mantenerme ocupado. Nunca dejo que el viejo entre en casa”.

Bem, já estou preparada para ver brevemente o novo filme dele:
 The Jersey Boys… Já anda por aí nos cinemas!

Bom dia de sol! Com Dave Brubeck - On The Sunny Side of the Street... Ao sol!




Num dia de sol,  venho desejar um bom Ano Hebraico aos meus amigos judeus pelo mundo fora!  
Shana Tova ve metukah, haverim! 
Com  o girassol pintado em Telavive pela minha amiga Viola Virshuvsky! E uns bagos de romã para festejar o Rosh-Hashana!
It's a sunny Day e Dave Brubeck é maravilhoso!




segunda-feira, 22 de setembro de 2014

leonard Cohen, Going Home, Dublin 12-09-2012



Leonard Norman Cohen, de família judaica, nasceu em Montreal, no dia 21 de setembro de 1934.  Chegou com o Outono, mas ele resiste ainda hoje como se nascesse todos os anos!

Cantor, compositor, poeta e escritor canadiano. Por curiosidade. conto que se dedicou à música depois de já ter sucesso como escritor de romances e de poesias. Um novo álbum está para sair (ou já saiu?) neste mês: "Popular Problems"...


Figura que não envelhece: pertence à colheita dos bons anos em que outro artista também se distingue – este, no cinema- Clint Eastwood.


Longa vida aos jovens que não querem envelhecer!