domingo, 29 de março de 2015

QUANDO A FICÇÃO CIENTÍFICA É A REALIDADE… OU VICE-VERSA?


Onde vai o homem? Onde vai parar a sua sede de imortalidade? De poder e de 'melhoramento' a espécie?
Chamam-lhe trans-humanidade: para além da humanidade a caminho da imortalidade?
Há uns tempos alguém me disse: “Se não houver uma paragem, um momento de consciencialização, um dia o homem vai ser substituído pelos computadores. Pelas máquinas. Mas será ainda um homem?”
E continuou: 
Homens que são compostos de pedaços de não-homens. Vais ver! Tens um braço que não funciona? Põe-se um braço electrónico, bem aparafusado. Perfeito!
Entre a ironia e a preocupação, falámos desse futuro (im)provável e louco. Digno da melhor ficção científica, de que ambos gostávamos. Exagero? Preocupação excessiva? Sim, hoje talvez ainda seja excessiva a preocupação.
E daí, sabe-se lá? Poderá haver no futuro um robot-homem? Homens-aves? Homens com peças de máquinas?
imagem de Le Monde
Há pouco tempo descobri um artigo sobre isso mesmo: do que se “prepara” em Silicon Valley e da “filosofia transumanista”.
Li isto: “Se pudéssemos resumir a filosofia transumanista, numa só ideia – a mais extrema e também a mais atraente, seria isto: o homem  deixará de ser um mamífero. Libertará o corpo graças à inteligência artificial e acederá à imortalidade!”

Isaac Asimov

Invenção? Quantos livros de ficção científica apontavam para isso: cientistas-escritores, como Isaac Asimov e outros, vêm-me à memória. Em 1964, Asimov fala do que se passará em 2014 e sabe que existirá a internet, nos termos de hoje, 20 anos antes de ela aparecer.

Isaac Asimov

Os seus livros-saga “Foundation” (de 1966, do qual se fez uma série em 2010, creio) uma trilogia sobre a vivência futura do Homem, baseado numa Ciência que teria desenvolvido o seu herói, a Psico-História (misto de sociologia e informática), junta com a Informática e o Computador.
No entanto, o escritor preocupava-se com esse "risco" e insitia no perigo e em como era importante o homem permanecer "humano"...

Ou o Arthur C. Clarke, outro cientista, criador de "2001 Odisseia no Espaço" (de que Stanley Kubrick fará um filme, em 1968).
Arthur C. Clarke


 “Nos tempos de hoje cada vez mais os “cientistas de Silicon Valley pensam na ideia do ‘homem aumentado’. Têm a certeza de que o homem vai melhorar a máquina e a máquina vai melhorar o homem”.

No semanário francês "Marianne" (no artigo intitulado "Trans-humanidade? Não!") pergunta-se:
"O que é esse falado “transhumanismo”? Evoca-se hoje nos “media” que uma parte dos nossos contemporâneos sonha arranjar o futuro à sua maneira – segundo os planos de uma “aumentação" científica das capacidades do homem, ou transumanidade. Uma ideia, à partida, simples: com tantas invenções técnicas não terá chegado o momento de se ultrapassar o homem? A técnica já “melhorou” alguns de nós…”

~
Le Monde, a Vénus de Botticelli "melhorada"

Ideologia - perigosa “filosofia” do “super homem”- do homem todo poderoso que controla o próprio homem e pode – por que não? - ser o dono do mundo (velho sonho ambicioso de vários loucos que passaram), auxiliado agora pelas máquinas. 
Ó glória de mandar/ó vã cobiça...
Ícaro, de Pier Paolo Rubens

Quantos Ícaros mergulharão no mar, de asas queimadas pelo sol, pernas articuladas e braços a carregar botões, tentando aproximar-se da perfeição dos deuses? 
Quantos Prometeus que tanto quiseram o fogo sagrado da sabedoria ficarão "agrilhoados". Ou largarão as amarras e, soltos das grilhetas e da águia que lhes destrói o fígado lentamente, partirão em novas “odisseias no espaço”?
Prometeu agrilhoado, de Tiziano 

O que passa pelo espírito do homem que o faz esquecer-se do homem?
Falamos de transumanidade…ou da desumanidade, apenas?
Por favor, não mexam na Vénus de Botticelli! Ela é perfeita!



4 comentários:

  1. Reconheço os títulos pois há cá por casa. Não os li.
    Gosto de ficção mas ligada à Idade Média.
    Adorei esta postagem pois o texto é demasiado importante, faz-nos parar e pensar.
    Super-homens são para mim os astronautas que se lançaram na descoberta do espaço e desafiaram o perigo e a morte.
    Os restantes super-homens, os da filosofia que aqui foca nada me dizem.
    Grata por esta partilha.
    Beijinho.:))

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  2. Gostei de ler o seu texto e estive a ouvir o vídeo do Isaac Asimov, o que está traduzido. Um discurso certeiro: se os países não se unirem para defender o Planeta, que será do futuro? Coleccionar grandes riquezas e construir grandes impérios, valerá de pouco aos senhores (gananciosos) "imperadores", pois as riquezas não lhes servirão para nada numa Terra sem ar para respirar, sem água para beber.

    Veremos o que o futuro nos reserva...

    Um beijinho grande e um bom dia:)

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  3. ~ Sempre achei a Vénus de Boticcelli algo estranha, sem perceber a causa
    ~ Hoje, pesquisando sobre este tema, descobri que são as incorrecções de
    algumas proporções que originam essa minha má impressão.
    ~ Se Michelangelo tvesse um computador para projectar, jamais teria tido a
    ousadia de conceber uma «Pietá», que não deixa de ser impressionante só
    pelo simbolismo.

    ~ Apesar dos pesares, temos sabido corrigir direcções.
    ~ O «Nautilus» das «Vinte Mil Léguas Submarinas» veio dar origem aos
    submarinos, peças horríveis durante a II guerra mundial, que nos dias de
    hoje desempenham funções pacíficas.
    ~ Já Júlio Verne e Einstein passaram os últimos anos de vida alertando
    sobre os perigos da tecnologia e os cientistas continuam com a mesma
    linha de preocupação.

    ~ As próprias máquinas ajudarão o homem a protegerem-se delas, ou
    de uma possível devastação humana.

    ~ ~ Apreciei bastante esta proposta de reflexão. ~ ~

    ~ ~ ~ Dias plácidos. ~ ~ ~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~

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  4. ~ ~ Peço desculpa pelo lapso: deveria constar:

    ~ '' ... conceber a sua «Pietá» ... ''

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