segunda-feira, 22 de maio de 2017

EFEMÉRIDE DE UM DIA 13 DE MAIO DE 1699

No distante dia 13 de Maio de 1699, nasceu Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, que foi Ministro do Rei D. José I.
Vem esta lembrança a propósito de um belo edifício que existe em Portalegre: a antiga Fábrica Real, fundada pelo Marquês de Pombal. Edifício que, depois de ser restaurada e muito bem- é hoje a sede da Câmara Municipal. 
Foi o Marquês que criou as chamadas "reais-fábricas-escola". E, em 1777, é fundada pelo Marquês de Pombal,  A Real Fábrica  que –depois de restaurada e muito bem- é hoje a sede da Câmara Municipal. 

O edifício abriga igualmente a 'Galeria de São Sebastião«, onde se realizam exposições temporárias e onde existe um Museu.
A ele se devem várias acções em prol das Ciências, das 'Luzes', da abertura do espírito deste nosso reino tão fechado, tão escuro, tão pouco “luminoso”, com tantas “penas” a pesarem-lhe na consciência.
No fim e ao cabo, o “reino cadaveroso” de que falará o nosso ‘iluminista’, o estrangeirado Ribeiro Sanches (3) que foi amigo dos Enciclopedistas, Diderot e D'Alembert e médico da Imperatriz Catarina I, da Rússia.
Denis Diderot 
D'Alembert.


Além disso, o Marquês concedeu a liberdade aos índios do Brasil (2), conferiu regalias e direitos aos naturais da Índia "iguais àquelas de que gozavam os súbditos portugueses". 

E, ainda, assinou dois alvarás régios (um em 1761 e outro em 1773) que, mais tarde, darão ao Rei D. José as condições próprias para começar a eliminação da escravatura na metrópole. 

Mas só em 1869 será completamente abolida a escravatura, em Portugal, por decreto do Rei D. Luís, em 23 de Fevereiro de 1869.

Pareceu-me efeméride digna de assinalar. Tudo o que conduz à educação, ao ensino, à abertura do espírito -deve interessar-nos. Nesse campo, o Marquês de Pombal teve uma acção considerável.
 Confesso que a tal efeméride do nascimento do Marquês, encontrei -a por acaso no “Borda D’ Água” que muitas vezes consulto para saber o que plantar na minha varanda -e nunca planto- ou  saber quando chega a lua cheia…
lua ainda pouco cheia (dias antes)...

Porque nas noites de lua cheia, lembro alguém que disse que estaria connosco nas noites de lua cheia. E não sou só eu a fazê-lo. A verdade é que importa lembrar todos os 'avanços' no campo da liberdade, dos estudos para todos, da dignidade da pessoa humana.
Lua cheia (foto de Marisa Volonterio)
índios do Brasil, escravos

(1) 'Pombal e o Esclavagismo', por Luís A. de Oliveira Ramos 

(2) "O índio deixou de ser escravo quando existiram condições económicas para comprar negros"(...) A escravatura dos índios do Brasil (que existia de 1534 a 1755) só acabou realmente por iniciativa do Marquês – primeiro por lei de 6 de Junho de 1755, válida pata o estado do Grão- Pará e Maranhão. Só depois de 1758 foi ampliada, por alvará, para todo o Brasil.”
http://www.unice.br/index.php/cpa/8-noticias/75-01-de-abril-dia-da-abolicao-da-escravidao-indigena

(3) António Nunes Ribeiro Sanches, iluminista, e ‘estrangeirado’, que foi médico da czarina Catarina da Rússia. Nasceu em Penamacor em 7 de Março de 1699 e morreu em Paris em 14 de Outubro de 1783. Escreveu “Das dificuldades que tem um reino em emendar-se”.

Ribeiro Sanches acreditava na força das ideias. Dizia que “as raças extinguem-se, os homens degladiam-se mas as ideias permanecem”.


sexta-feira, 19 de maio de 2017

A série britânica "Vera", a comissária Vera Stanhope...


Nova série policial, para mim - mas que existe desde 2011: “Vera”, a afectiva, humana Inspectora Vera Stanhope, que prefere “entender” a julgar e que no entanto persegue os criminosos, num mundo fora do mundo de tão belo.
Northumberland, as colinas Penines

E selvagem, sem dúvida, o mundo  das aldeias da região de Northumberland, condado ao Norte de Inglaterra, quase na fronteira com a Escócia, zona de grande beleza e de paisagens quase selvagens, paisagem  de charnecas e pântanos a perder de vista. Onde o ser humano –como em toda a parte- deixa de ser humano para voltar ao estado primitivo, nas emoções, nos afectos, nos ódios e nas invejas. E no amor.

Lugar paradisíaco “de espaços a perder de vista”, disse, onde os assassinatos parecem ainda mais absurdos; e onde mais choca a barbárie primitiva dos seres humanos: a prepotência sobre os indefesos ou a agressão dos mais frágeis. 
O abandono, a injustiças da vida, os adolescentes perdidos, os homens violentos, as mulheres batidas ou em fuga. Ela, Vera, que foi uma filha quase abandonada, criada por um pai que se esquecia dela e que ela tentava proteger e salvar.
Como ela conta a uma das suas personagens, adolescente, que julga poder salvar todos: “nós não os podemos salvar, querida. Eles não querem ser salvos.”
Porque não há salvação se não a procurares e aceitares. Se te abandonares aos instintos, às paixões e à perdição, porque mesmo nos lugares paradisíacos, o ser humano pode ser boçal, egoísta, manipulador. E ser capaz de matar para seu proveito.
 Gosto da doçura desta mulher que trata as pessoas por 'love' ou 'pet' e que é solidária com o sofrimento dos outros. E  que se preocupa! É tão raro esse sentimento.
Ruth Rendell 
Ao contrário do que muitos julgam, estes livros não são superficiais. Li um artigo sobre Ruth Rendell em que se defendia a “tese” de que é na literatura policial que hoje se vai mais fundo na denúncia dos podres das sociedades; onde se fala das doenças mentais escondidas, do abandono e do abuso sobre os seres em que a fragilidade é  mais acentuada: mulheres, crianças, adolescentes. 
Em que o lado mau da humanidade é analisado a fundo. O lado "escuro", o mal que existe em tanta gente. Em que a inveja e a coscuvilhice são tão "mortais" como as armas. 
The dark side of the moon era uma bela canção dos Pink Floyds. Aqui fala-se de algo bem pior: o “dark side of mankind”: nas profundezas da alma onde se instala a maldade: the evil
Gosto da humanidade que a comisssária Vera 'põe' nestas histórias violentas e sinistras. 

“Vera” da série é Brenda Blethyn que foi actriz de teatro e representou Shakespeare e que entrou em  filmes de Mike Leigh. 

E ganhou prémios pela sua interpretação (Secrets and lies, por exemplo).
Vidas perdidas, pessoas solitárias, destruídas, infelizes - que me fazem lembrar na violência dos sentimentos o pessimismo das histórias do grande romancista inglês Thomas Hardy (salvas as distâncias com a autora Ann Cleeves), onde o ser humano é sempre o mesmo ser humano frágil, ou abusado, ou perseguido, ou solitário.

Era pessimista, Hardy? Em muitos dos seus romances, sim era. Como escreve Claire Tomalin “a visão sombria das coisas acentuava-se de livro para livro” (*).
Claire Tomalin 

A escritora policial Ann Cleeves - em cujos livros se baseia a série televisiva britânica, “Vera”, iniciada em 2011-  nasceu em 1954. Estudou Literatura Inglesa, na Universidade de Sussex, mas cedo abandonou os estudos. Teve várias profissões, desde cozinheira a “guarda-costeira”.

Suntherland (foto de Diogo C.)

Em 2006, ganhou o Prémio Duncan Laurrie Dagger, o prémio de literatura policial mais famoso, no Reino Unido.
Em 2014, Cleeves foi ‘agraciada’ com um Doutoramento Honorário, em Letras, na Universidade de Suntherland.
Edward Hopper

Em 2015, foi a Presidente do Júri do “Festival do Crime” -  do prémio “T & R Theakston” - do nome da cervejaria Theakston, que existe na ‘cidade-mercado’ (**) de Masham, no Yorkshire. 
A cervejaria Theakston
Nesse mesmo ano, foi proposta para o Dagger in the Library dos escritores policiais, prémio criado pela CWA (Crime Writers Association).

Ann Cleeves vive hoje em Whitley Bay onde muitas das suas histórias são ambientadas.


 (*) Sobre esse assunto, escreve Claire Tomalin (op.cit. pg. 219, cap. The Blighted Star): “Por vezes negava ser um pessimista, e é verdade que mantinha a sua alegre vida social em Londres. (...) enquanto ia trabalhando nos romances mais duros."

(**) Estas cidades-mercado (market town ou market right, era o termo legal) foram criadas na Idade Média, em vários países da Europa. Tinham a particularidade de poderem ter “feiras”. Eram cidades que gozavam desse direito: podiam “hospedar” mercados em que se vendia tudo –o que as distinguia das cidades ou aldeias normais.